Por que não escrevo `a CNBB

Explicação de por que não vale a pena escrever à CNBB

Ao ler minha resposta às barbaridades publicadas por um mau Bispo defendendo o MST, perguntaram-me por que não escrevo à CNBB para queixar-me. Respondi que:

Eles simplesmente não vão entender.

Explico: esse pobre pessoal usa conceitos operatórios marxistas. O marxismo é uma redução de tudo o que existe a uma idéia (como qualquer outra forma de pensamento moderno), no caso uma idéia de como seria a ação da dinâmica de poder (principalmente econômico) no mundo, baseada na dialética hegeliana (que pode ser resumida em "toda tese faz surgir uma sua antítese; do confronto de tese e antítese nascerá uma síntese, que será uma nova tese que fará surgir uma sua síntese, etc.). a diferença é que para o Marx o fim da história não será a plena manifestação do Espírto que o Hegel pregava, mas a sociedade perfeita. A história assim passa a ser vista teleológicamente, a ser vista como uma história que caminha em ziguezague rumo a um fim conhecido e desejado, a cada passo mais próxima dele.

O resultado é que um marxista, ao ver qualquer situação (por exemplo a situação de confronto entre o discurso de D. Deusmelivre e o que a Igreja prega), procura imediatamente reconhecer quem é a "força da reação" (a tese), que está "aliada aos opressores para impedir o progresso dialético" e quem é a "força do progresso" (a antítese), que se levantou contra a opressão. Assim, a lei da Igreja que manda um Bispo manter-se alheio a questões políticas e não tomar abertamente partido a não ser em defesa da Lei de Deus (como no caso, por exemplo, da exemplar ação de D. Eugênio Sales, que avisou publicamente que seria excomungado qualquer delegado de polícia que cumprisse a "lei" que mandava dar às vítimas de estupro o endereço de um aborteiro) cai automaticamente na posição de "tese", à qual deve ser contraposta (e apoiada) uma "antítese".

Para o marxista fantasiado de católico, assim, a função da Igreja é ser uma "força de mudança" (vista como sendo necessariamente um progresso rumo a um paraíso na terra: o "Reino de Deus" do discurso de D. Tiscunjuro, que eu fingi não entender para poder fazer uma crítica baseada em premissas católicas), apoiando quaisquer "progressos" que surjam. É por isso que eles se dizem "progressistas". O FHC era um "progresso" em relação ao governo militar - mais exatamente era a síntese entre o governo anterior e a oposição comunista, baseada na Teoria da Dependência que ele mesmo desenvolveu - e por isso foi inicialmente apoiado (muuuito inicialmente; até pouco depois de sua posse, quando então virou "tese" e o apoio passou ao PT, sua "antítese").

Assim, a idéia de que a Igreja seja não uma "força progressista", mas uma instituição de direito divino dedicada a transmitir sem mudança alguma o que foi ensinado há dois mil anos pelo Verbo de Deus Encarnado simplesmente não faz sentido dentro de um prisma tão reducionista e tão contrário à Fé. Se a Igreja não está automaticamente alinhada com a última maluquice contestatária, ela é uma "força da reação", logo má. Ora, se a Igreja é má, é necessário mudá-la dialeticamente (arrá!) incentivando as maluquices mais contestatárias possíveis dentro dela. Eu seria visto simplesmente como - xingamento dos xingamentos! - um "reacionário" que deve ser combatido ou ignorado; nada do que eu escrevo merece ser lido, e tudo deve ser feito para que o "progresso" cale a "voz odiosa da reação".

Não importam os argumentos, não importa a lógica, não importa a lei, não importa a Verdade. Tampouco importa (no sentido de ter valor intrínseco) a "democracia" defendida no texto, senão como etapa de um processo dialético. Assim para um marxista, em 1789 deveria ser defendida a Revolução Francesa e em 1917 a Russa, mas hoje os valores pregados por tanto uma como outra são "atrasados" (por já terem sido tesificados, antitetizados e sintetizados) e devem ser combatidos. O próprio PT vai ganhar uma "antítese" em breve (pois o governo do PT forçosamente já vai ser uma síntese do PT com o FHC); talvez seja o PSTU, único partido a apoiar o último plebiscito da CNB do B.

Só duas vezes recebi resposta desse povo. Um me mandou trocentas citações de profetas veterotestamentários que, aos olhos lá dele, justificavam a ação do MST (eu, hein!). O outro foi uma respostinha engraçadíssima, mas sintomática, de um jornal da Arquidiocese de São Paulo. Esta não me foi enviada diretamente, mas a encontrei por acaso na Net. Uma moça mandou para lá uma cópia de um folheto meu sobre Ministros Extraordinários, perguntando se eu estava certo no que escrevera. Eles responderam (é uma pena, mas não tenho mais o texto em mãos; se alguém o achar ou tiver, peço que me envie uma cópia) que realmente o que eu escrevera era uma compilação correta e atualizada da lei da Igreja, mas as minhas "sugestões" no fim do folheto (que eu coloquei exatamente para evitar que alguém mais destemperado faltasse ao respeito com um sacerdote!!!) eram "exageradas" e não deviam ser seguidas. Deixo a seu critério avaliá-las:

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1 - Lembrar aos sacerdotes e bispos que estão desobedecendo à Lei da Igreja, o que é pecaminoso, ao usar de forma habitual ministros leigos na distribuição da Sagrada Comunhão.

2 - Mostrar a todos o que a Lei da Igreja manda fazer.

3 - Não receber a comunhão ilicitamente das mãos de um leigo; o ideal é evitar as paróquias onde esta prática ocorre, se isto for possível.
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Note que eles concederam que a lei da Igreja era aquilo mesmo que eu disse. Ora, o que isso mostra? Mostra claramente que a Lei da Igreja não vale chongas para eles, sendo apenas uma "tese" reacionária à qual deve ser contraposta uma "antítese" (desobediência habitual à lei) para chegar a uma "síntese" (revogação da lei e autorização para o abuso ordinário de leigos nesta função sacerdotal, por exemplo). Esta, por sua vez, viraria um tese, à qual deveria ser contraposta uma antítese, etc. Em breve, presumivelmente, teríamos leigos tentando consagrar o Santíssimo, por exemplo. Isso mostra não apenas o raciocínio tortuoso do ziguezague marxista, como a absoluta incapacidade de conjugar este besteirol com os múnera de ensinar, governar e santificar da Igreja. É claro que nunca teremos leigos consagrando, pela simples razão de que isso é impossível. Leigos não conseguem consagrar.

Mesmo assim é comum encontrar em livros dos anos 70, quando a rapidez das transformações alucinadas dos perversores do Concílio estava em seu auge, a afirmação de que isso ocorreria em breve. Isso é insinuado no Catecismo Holandês (um dia conto a história desta blasfêmia para os mais novinhos) e dito com todas as letras em trabalhos menos comprometedores (como o livro de ficção "Os Fantoches de Deus", de Morris West, em que é visto como natural que após uma catástrofe leigos passem a consagrar por falta de padre). Até hoje o pessoal das CEBs não conseguiu engolir que precisa de um padre para consagrar.

Resumindo: acho que não vale a pena responder diretamente a eles. É como falar com surdos e cegos, que só vêem aquilo que seus antolhos mentais lhes permitem ver.




©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor
Aviso ao leitor: Este artigo foi escrito em algum momento dos últimos quinze anos; as referências nele contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.

2 comments:

  1. Boa tarde,
    Gostaria de saber que é o Porf. Carlos Ramalhete, onde ele estudou, onde dá aulas, etc.
    Obrigado
    Att.
    Gabriel

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