tag:blogger.com,1999:blog-8912680480155559172024-02-08T05:55:00.360-08:00A Hora de São Jerônimo<center><em>Necessarium fuit ad humanam salutem, esse doctrinam quandam secundum revelationem divinam, praeter philosophicas disciplinas, quae ratione humana investigantur. - S. Tomás de Aquino
</em><p>
Era necessário para a salvação dos homens que houvesse uma doutrina revelada por Deus, além das disciplinas filosóficas que investiga a razão humana - S. Tomás de Aquino</p></center>Unknownnoreply@blogger.comBlogger128125tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-57410699348124933402011-11-07T13:06:00.000-08:002011-11-07T13:11:56.313-08:00Catecismo - Aula 10<h2 style="text-align: center;">Seu Único Filho</h2><div style="text-align: justify;"> O tema da décima aula do curso de catecismo ministrado pelo Prof. Carlos Ramalhete é "Creio em [...] Jesus Cristo, Seu Único Filho": a filiação adotiva divina dos cristãos e a Filiação Divina de Nosso Senhor.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><object id="mediaplayer3004401540" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" width="500" height="306"><param name="movie" value="http://www.gloria.tv/media/207170/embed/true" /><param name="allowscriptaccess" value="always" /><param name="allowfullscreen" value="true" /><embed src="http://www.gloria.tv/media/207170/embed/true" type="application/x-shockwave-flash" width="500" height="306" flashvars="media=207170&embed=true" quality="high" scale="noborder" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true"></embed></object></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em outubro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-48258365415251890002011-11-07T12:55:00.000-08:002011-11-07T13:00:23.585-08:00Catecismo - Aula 9 (regravada)<h2 style="text-align: center;">Jesus Cristo - Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem </h2><div style="text-align: justify;"> Nona aula do curso de Catecismo ministrado pelo Prof. Carlos Ramalhete: O tema é a União Hipostática - o que significa dizer que Nosso Senhor é Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><object id="mediaplayer2252675078" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" height="306" width="500"><param name="movie" value="http://www.gloria.tv/media/212699/embed/true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><param name="allowfullscreen" value="true"><embed src="http://www.gloria.tv/media/212699/embed/true" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="media=212699&embed=true" quality="high" scale="noborder" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="306" width="500"></embed></object></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em outubro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-43293206023644728962011-11-07T12:44:00.000-08:002011-11-07T13:05:31.281-08:00Catecismo - Aula 4<h2 style="text-align: center;">Deus Criador </h2><div style="text-align: justify;"> Quarta aula do curso de Catecismo ministrado pelo Prof. Carlos Ramalhete: Tudo o que a gente faz não é um ato de criação como o ato de criação que Deus faz. Quando criamos algo estamos transformando uma matéria que já existia.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe src="http://www.youtube.com/embed/W4Vr24VCs8A" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" width="420"></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-55794688107124479022011-11-07T12:28:00.000-08:002011-11-07T13:05:47.806-08:00Catecismo - aula 5<h2 style="text-align: center;">O Céu(coisas invisíveis) - Anjos e Demônios </h2><div style="text-align: justify;"> Quinta aula do curso de Catecismo ministrado pelo Prof. Carlos Ramalhete: O tema é aquilo a que nos referimos no Credo como "os Céus": as coisas invisíveis, os seres espirituais: anjos e demônios, e sua ação no mundo criado.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe src="http://www.youtube.com/embed/38dVbJOi89Q" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" width="560"></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-89160020253195257062011-10-19T12:37:00.000-07:002011-10-19T12:49:45.606-07:00Tempos sem lei<div style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1177203&tit=Tempos-sem-lei" target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 06/10/2011 - Carlos Ramalhete</span><br /><br />Para jogar futebol, é preciso saber as regras e respeitá-las. Quem não as respeita recebe um apito do juiz e uma advertência, podendo mesmo ser expulso do campo.<br /><br />O mesmo ocorre com a vida em sociedade de modo geral. O papel da polícia e dos tribunais, numa sociedade ordeira, é o mesmo do juiz no jogo de futebol: advertir, e até punir, quem não respeita as regras comuns, quem sai do normal e do aceito por todos, para que a ordem possa continuar. A ordem social não é nem poderia jamais ser criada pela polícia e pelos tribunais, do mesmo modo como um juiz de futebol não conseguiria fazer, à força de apitaços, com que se parasse de usar as mãos num campeonato de handebol; só o que ele conseguiria fazer seria o caos.<a name='more'></a><br /><br />É esse o meu temor em relação às tentativas cada vez mais frequentes de fazer da legislação – logo, da polícia e dos tribunais – um instrumento de transformação da ordem social: isso simplesmente não funciona. É como um juiz desportivo que tente fazer valer as regras de outro jogo: na prática, o que ele faz é acabar com toda ordem possível. A ordem social não é baseada na legislação, mas sim nos costumes tradicionais da população, e à legislação compete refleti-los, sob pena de ser, na melhor das hipóteses, irrelevante.<br /><br />Quando se tenta usar a legislação como instrumento de transformação social, o que ocorre não é a transformação desejada, mas a desordem social, a anomia, ao punir o comportamento considerado normal por todos e tentar impor algo considerado anormal: leis conflitantes com os costumes viram ausência de lei.<br /><br />É o que vem acontecendo em relação aos homossexuais, cada vez mais frequentemente vitimados por boçais agressivos: a tentativa de imposição por lei de uma visão do homossexualismo como motivo de orgulho fez com que, em grande medida, o comportamento tolerante da cultura tradicional do brasileiro fosse deixado de lado. O que tomou o seu lugar foi a anomia, a desordem, a boçalidade dos que veem os homossexuais como fautores de uma legislação neofascista que na verdade os está usando de bucha de canhão para destruir a ordem tradicional.<br /><br />A tendência é piorar, enquanto o descompasso entre a ordem social e a legislação perdurar. É por isso que recomendo a todas as vítimas em potencial desta anomia – homossexuais, moças que andam sozinhas à noite e demais minorias que dependam da civilidade geral – que aprendam o quanto antes a se defender. Em tempos sem lei, quem mais sofre são as minorias e os mais fracos, e é isso que se está preparando no Brasil.<br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-42162876918007356262011-10-15T14:13:00.000-07:002011-10-15T14:16:32.219-07:00Catecismo - aula 6<h2 style="text-align: center;">Criador da Terra - Os seis dias </h2><div style="text-align: justify;"> Sexta aula do curso de Catecismo ministrado pelo Prof. Carlos Ramalhete: Deus Criador da Terra - a obra dos seis dias e o pecado original.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe width="500" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/oyrwqdwsrco?rel=0" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-39478048735834020062011-10-12T11:06:00.000-07:002011-10-12T11:22:40.988-07:00Exame de Consciência - 2<h2 style="text-align: center;">Primeiro Mandamento<br /></h2><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-style: italic;">Amar a Deus sobre todas as coisas</span><br /><br /></div>Segundo de uma série de dez pequenos vídeos ensinando a fazer um exame de consciência para antes da confissão.<br /><br />- Idolatria, espiritismo<br />- Adivinhação (horóscopo, tarô)<br /></div>- Magia, superstição<br />- Simonia (cobrar p/ rezar por alguém, por ex.)<br />- Sacrilégio (tratar mal as coisas de Deus, ficar batendo papo durante a missa...)<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe src="http://www.youtube.com/embed/srz3Kypm2Q0?rel=0" allowfullscreen="" frameborder="0" height="235" width="462"></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-41641418195389614402011-10-11T12:08:00.000-07:002011-10-11T12:12:47.994-07:00Exame de Consciência - 1<h2 style="text-align: center;">Introdução</h2><div style="text-align: justify;"> Esta é a introdução de uma série de dez pequenos vídeos ensinando como fazer um exame de consciência. Nela, ensina-se como se confessar, onde, com quem, por que, etc.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe src="http://www.youtube.com/embed/hjPRM8t83JM?rel=0" allowfullscreen="" frameborder="0" height="240" width="472"></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-14232088213309667282011-10-11T08:32:00.000-07:002011-10-11T08:38:20.255-07:00Catecismo - aula 7<h2 style="text-align: center;">Creio em Jesus Cristo</h2><div style="text-align: justify;"> Nessa aula de hoje nós vamos abordar o segundo artigo do Credo. Na aula anterior nós vimos o primeiro e agora nós vamos abordar o segundo que fala de nosso Senhor Jesus Cristo.<br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe width="398" height="270" src="http://www.youtube.com/embed/0xqcyyU5AqI?rel=0" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-30209963807496642622011-10-11T06:32:00.000-07:002011-10-11T08:30:47.808-07:00Catecismo - aula 8<h2 style="text-align: center;">Jesus Cristo (Naquele tempo...) </h2><div style="text-align: justify;">Na aula de hoje, que é continuação de todas as outras, nós vamos continuar tratando do tema de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na aula anterior nós falamos de como a humanidade foi caindo por causa do pecado original. <br /></div><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><iframe width="462" height="265" src="http://www.youtube.com/embed/pxHC-Wss0PI?rel=0" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div><br /><div style="text-align: center;">Gravado em setembro/2011<br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-20740859958127018542011-09-26T14:42:00.000-07:002011-09-26T14:48:23.439-07:00V - A HISTÓRIA DA FAMÍLIA<div style="text-align: center;">
V</div>
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A HISTÓRIA DA FAMÍLIA</div>
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<span style="font-size: x-small;">Autor: G.K. Chesterton<br /><span style="font-weight: bold;">Tradução</span>: ©Prof. Carlos Ramalhete</span></div>
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A mais antiga das instituições humanas tem uma autoridade que pode parecer tão selvagem quanto a anarquia. Ela é a única, dentre todas estas instituições, a começar com uma atração espontânea, e de que se pode dizer que é baseada no amor, não no medo. A tentativa de compará-la com as instituições coercitivas que vêm complicando a história recente levou a uma infinita falta de lógica nos últimos tempos.</div>
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Trata-se de algo tão único quanto universal. Não há nada, em nenhuma outra relação social, que seja sequer paralelo à atração mútua dos sexos, e é ao perder de vista este fato simples que o mundo moderno caiu em centenas de enganos.</div>
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A idéia de uma revolta geral das mulheres contra os homens foi proclamada com bandeiras e passeatas, como se fosse uma revolta de vassalos contra seus senhores, de negros contra negreiros, de poloneses contra prussianos ou de irlandeses contra ingleses; todos agiam como se acreditassem na nação fabulosa das amazonas. A ideia, igualmente filosófica, de uma revolta geral dos homens contra as mulheres foi proposta em forma de romance por Sir Walter Besant, e como livro de sociologia pelo Sr. Belfort Bax.</div>
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Ao primeiro toque desta verdade de uma atração aborígene, contudo, todas estas comparações desabam e se vê como são cômicas. Um prussiano não sente, logo de cara, que ele só será feliz quando puder passar os dias e as noites ao lado de um polonês. Um inglês não acha que a casa parece vazia e triste a não ser que haja um irlandês lá dentro. Um escravagista não sonha, na sua juventude romântica, com a beleza perfeita de um africano. Um magnata das ferrovias raramente escreve poemas sobre o fascínio particular de um carregador de estação de trem.</div>
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Todas estas outras revoltas, contra todas estas outras relações, são razoáveis, para não dizer inevitáveis, por serem relações originalmente baseadas na força ou no interesse próprio. A força consegue abolir o que a força consegue estabelecer; o interesse próprio pode rescindir um contrato que foi ditado pelo interesse próprio. O amor de um homem e de uma mulher, contudo, não é uma instituição que posssa ser abolida ou um contrato que possa ser rescindido. É algo mais antigo que todas as instituições e contratos, algo que certamente irá continuar quando eles não mais existirem.</div>
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Todas as outras revoltas são reais, porque persiste a possibilidade de que as coisas possam ser destruídas, ou ao menos divididas. É possível abolir os capitalistas, mas não se pode abolir os homens. Os prussianos podem sair da Polônia, ou os negros voltar à África, mas um homem e uma mulher vão sempre permanecer juntos, de um jeito ou de outro, e devem aprender a tolerar-se mutuamente de alguma maneira.</div>
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Trata-se de uma verdade muito simples, e talvez por isso hoje em dia ela passe desapercebida. A verdade que dela se depreende é igualmente óbvia. Não se discute por quê a natureza criou esta atração; na verdade, seria mais inteligente perguntar-se por quê Deus a criou, pois a natureza não teria propósito sem Deus por trás dela. Falar de um propósito na natureza é tentar, em vão, usar o feminismo para evitar o antromorfismo. É crer numa deusa por se ser cético demais para acreditar em um deus.</div>
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Esta controvérsia, contudo, pode ser deixada de lado nesta discussão, se nos contentarmos em dizer que o valor vital que se encontra, afinal, nesta atração é, evidentemente,a renovação da raça humana.</div>
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A criança é uma explicação do pai e da mãe, e o fato de ela ser uma criança humana é uma explicação dos antigos laços humanos que ligam o pai e a mãe. Quanto mais humana – ou seja, menos bestial – for a criança, mais legítimos e duradouros serão estes laços. Assim, quaisquer progressos na cultura ou na ciência, longe de afrouxar estes laços, irão logicamente estreitá-los. Quanto mais houver para a criança aprender, mais tempo terá ela de passar na escola natural onde os aprende, e mais deve tardar a dissolução da parceria de seus mestres.</div>
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Esta verdade elementar está hoje escondida sob uma multidão de intermediários, agindo em função direta ou indireta da falácia elementar de que tratarei em seguida. Falo da posição primária do grupo humano, tal como ele persistiu ao longo de eras, enquanto as civilizações ascendiam e decaim; frequentemente incapaz de delegar o que quer que fosse do seu trabalho, e sempre incapaz de delegá-lo por inteiro. Nisto, repito, sempre será necessário que os dois mestres fiquem juntos, enquanto eles tiverem algo a ensinar.</div>
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Um bicho marinho qualquer, que simplesmente se desliga da cria e flutua para longe, poderia flutuar até um tribunal de divórcio submarino ou um clube de amor livre para peixes. O bicho marinho pode fazê-lo precisamente porque a sua cria não precisa fazer nada, porque ela não tem que aprender a dançar polca ou recitar a tabuada. Estou enumerando truísmos, mas truísmos verdadeiros; as verdades sempre acabam voltando à cena. Afinal, o emaranhado de substitutos semi-oficiais da verdade que agora encontramos não é grande o bastante para tapar o buraco. Se as pessoas não conseguem cuidar da própria vida, simplesmente não pode fazer sentido pagá-las para cuidar da vida dos outros, menos ainda para cuidar dos bebês dos outros. Isso é simplesmente jogar fora um poder natural para pagar por um poder artificial, como quem rega uma planta com uma mangueira enquanto a protege da chuva com uma sombrinha.</div>
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Tudo isso, na verdade, está baseado em uma ilusão plutocrática de uma oferta infinita de serviçais. Sempre que aparece um sistema novo qualquer que seja apresentado como “uma carreira feminina”, o que está realmente sendo proposto é transformar um número infinito de mulheres em serviçais da plutocracia ou da burocracia. Em última instância, estamos argumentando que uma mulher não deveria ser mãe do próprio filho, sim babá do filho dos outros. Isto, contudo, não tem como funcionar nem no papel. Não é possível que cada um lave a roupa do próximo, muito menos os babadores. No fim das contas, as únicas pessoas que conseguem cuidar, ou mesmo de quem se possa dizer que cuidem, individualmente, de cada criança individual são os seus pais individuais. A expressão, tal como é aplicada aos que lidam com multidões cambiantes de criancinhas, é apenas uma graciosa e legítima figura de linguagem.</div>
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Este triângulo de lugares-comuns composto de pai, mãe e filho é indestrutível, e destrói qualquer civilização que o menospreze. A maior parte dos reformadores modernos é apenas um amontoado de céticos vazios, que não têm base alguma sobre a qual reconstruir; seria bom se estes reformadores se dessem conta de que há algo que eles não conseguem reformar.</div>
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É possível derrubar os poderosos de seus tronos. É possível virar o mundo de ponta-cabeça, e é perfeitamente defensável que esta seja a posição certa para ele. Contudo, é impossível criar um mundo em que o bebê carrega a mamãe. Não se pode criar um mundo em que a mãe não tenha autoridade sobre o bebê. É possível perder tempo argumentando, dando aos bebês o direito de voto ou proclamando uma república infantil. É até mesmo possível dizer, como o fez outro dia um pedagogo, que as crianças pequenas deveriam “criticar, questionar a autoridade e suspender seu julgamento”. Não sei por que ele não continuou, dizendo que elas deveriam trabalhar para ganhar a vida, pagar imposto de renda e morrer pela Pátria no campo de batalha, já que evidentemente o que está sendo proposto é que as crianças não tenham infância.</div>
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Mas, se isso parecer divertido, é possível organizar um “governo representativo” entre os menininhos e menininhas e dizer a eles que levem o mais a sério que puder as suas responsabilidades legais e constitucionais. Resumindo, é perfeitamente possível ser louco, mas é impossível fazer sentido. Não se pode realmente levar às raízes este princípio e aplicá-lo à mamãe e ao bebê. Não é possível aplicar a teoria ao mais simples e mais prático de todos os casos. Ninguém é louco a este ponto.</div>
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Este núcleo de autoridade natural sempre existiu em meio a autoridades mais artificiais. Ele sempre foi visto como algo literalmente individual, ou seja, como algo absoluto, que não pode ser dividido. Um bebê não seria sequer um bebê sem a mãe; seria outra coisa, mais provavelmente um cadáver. Isto sempre foi reconhecido como algo que tem uma relação peculiar com o governo, simplesmente por ser uma das coisas que não foram feitas pelo governo e que poderia, em certa medida, vir a existir sem o apoio do governo. Realmente, trata-se de algo tão evidente que nenhuma defesa é possível ou necessária. Pois a defesa que pode ser feita é que não há nada comparável, e nos poderes e instituições mais elaborados, que são seus inferiores, não encontraremos mais que leves paralelos.</div>
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Assim, a única maneira de transmitir esta idéia é comparando-a com uma nação, ainda que, comparadas a ela, as divisões nacionais sejam tão modernas e tão formais quanto os hinos nacionais. É por isso que eu uso frequentemente a metáfora de uma cidade, ainda que o citadino, em comparação, seja uma novidade tão recente quanto o funcionário público municipal. Basta notar aqui que todos sabem por intuição, e admitem por implicação, que uma família é um fato, algo sólido, dotado de cor e caráter como uma nação.</div>
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Esta verdade é comprovada nas experiências mais cotidianas e mais modernas. Um homem vai dizer “é o tipo de coisa de que os Brown vão gostar”, por mais intrincada e interminável que seja a novela psicológica que ele possa compôr sobre os tons das diferenças entre o Seu Brown e a Dona Brown. Uma mulher vai dizer “eu não gosto que a minha filha frequente a casa dos Robinsons”, mas ela não vai sempre parar, no meio de suas exaustivas tarefas sociais ou domésticas, para dintinguir entre o materialismo otimista do Seu Robinson e o cinismo um tanto ou quanto mais ácido que permeia o hedonismo da Dona Robinson.</div>
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O interior de um lar tem uma cor própria, tão evidente quanto o exterior da casa. Esta cor é uma mistura, e se um tom prevalecer será geralmente o da mulher da casa. Mas, como todas as cores compostas, ela é uma cor à parte, tão distinta quanto o verde é distinto do azul e do amarelo. Todo casamento é uma espécie de equilíbrio dinâmico, e o acordo a que se chega, em cada caso, é tão único quanto qualquer excentricidade. Os filantropos que andam pelas favelas frequentemente percebem este acordo sendo feito aos brados, em plena rua, e acham que estão vendo uma briga. Quando metem o colher apanham do marido e da mulher, o que é bem feito, por não respeitarem a própria instituição que os trouxe ao mundo.</div>
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A primeira coisa a perceber é que esta normalidade gigantesca é como uma montanha, que pode ser até um vulcão. Todas as anormalidades que se lhe opõem são como o montinho de terra que marca a toca de uma toupeira, e os organizadores sociais, com toda a sua autenticidade, parecem-se cada vez mais com toupeiras.</div>
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Mas a montanha também é um vulcão em outro sentido, como o sugerido pela tradição dos campos fertilizados por lava, no Sul. Ele tem um lado criativo, bem como um lado destrutivo, e resta apenas, nesta parte da análise, notar o efeito político desta instituição extra-política, bem como os ideais que ela defendeu, frequentemente sozinha.</div>
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O ideal que ela defende em relação ao Estado é o da liberdade. Ela preserva a liberdade pela razão simples com que comecei este esboço de análise. É a única instituição que é ao mesmo tempo necessária e voluntária. É o único dos freios ao poder do Estado que se renova de modo tão eterno quanto o Estado e de modo mais natural que ele.</div>
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Qualquer homem são há de reconhecer que a liberdade ilimitada é anarquia, ou melhor, não é nada. A idéia cívica de liberdade é dar ao cidadão uma província em que ele é livre, um território circunscrito em que ele é rei.</div>
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Esta é a única maneira de a verdade se refugiar da perseguição pública e do homem bom sobreviver ao governo mau. Mas o homem bom, sozinho, não tem como enfrentar a cidade. Outra instituição deve servir de contrapeso à cidade, e neste sentido ela é uma instituição imortal.</div>
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Enquanto o Estado for a única instituição ideal ele irá conclamar o cidadão a sacrificar-se, e assim não terá escrúpulos em sacrificar o cidadão.</div>
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O estado consiste em coerção, e, no seu próprio ponto de vista, está sempre certo quando aumenta a coerção. É o caso, por exemplo, do serviço militar obrigatório. A única coisa que pode ser colocada para limitar ou desafiar esta autoridade é uma lei voluntária e uma lealdade voluntaria. Esta lealdade é a proteção da liberdade, na única esfera em que a liberdade pode verdadeiramente florescer. É um princípio constitucional que o Rei nunca morre. É o princípio único da família que o cidadão nunca morre. É necessário que haja uma heráldica e uma hereditariedade da liberdade, uma tradição de resistência à tirania. Os homens não devem apenas ser livres, mas nascer livres. Realmente, há algo na família que pode ser chamado até de anarquista, ainda que seja mais correto dizer ser algo amador. Assim como ela parece ser algo vaga acerca de sua origem voluntária, também parece haver algo vago acerca de sua organização voluntária. A função mais vital que ela desempenha, que talvez seja a função mais vital que qualquer um possa desempenhar, é a de educação; mas este tipo de educação fundamental é essencial demais para que se possa confundi-la com mera instrução.</div>
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Sua regra é mais prática que teórica, em milhares de aspectos. Para dar um exemplo banal, e até engraçado, duvido que algum livro-texto ou código de regras já tenha contido instruções sobre como botar uma criança de castigo no canto da parede. Certamente, quando o processo moderno se houver completado e o princípio coercitivo do Estado tenha extinguido completamente o elemento voluntário da família, haverá alguma restrição ou regulação estrita sobre isto. Possivelmente ela determinará que o canto onde a criança vai ficar de castigo deva ter um ângulo de pelo menos noventae cinco graus. Possivelmente, ela dirá que a linha de convergência de um canto comum tende a envesgar a criança.</div>
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De fato, tenho certeza de que se eu deixar escapar em um número suficiente de reuniões sociais que cantos de parede envesgam as crianças, isto rapidamente se tornará um dogmada ciência popular.</div>
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Afinal, o mundo moderno não aceita dogmas baseados em alguma autoridade, mas aceita de bom grado dogmas baseados em nenhuma autoridade. Se se diz que uma coisa é assim ou assado de acordo com o Papa ou a Bíblia, ela será desprezada como superstição sem ser examinada. Mas se, ao contrário, dissermos que “dizem que”, ou “você não sabia que”, tentando, sem sucesso, lembrar o nome de algum cientista citado num artigo de jornal, o racionalismo aguçado da mente moderna aceitará qualquer coisa que lhe seja dita.</div>
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Este parêntese não é tão irrelevante como parece, pois é necessário lembrar que quando um oficialismo rígido irrompe em meio às cessões voluntárias do lar ele será rígido apenas na ação, enquanto certamente será ao mesmo tempo excessivamente frouxo na razão. Intelectualmente, ele não será menos vago que os arranjos amadores do lar; a única diferença é que os arranjos domésticos são, no único sentido real, práticos, ou seja, são baseados nas experiências passadas. Os outros arranjos são o que geralmente é dito científico, ou seja, são baseados em experiências que ainda não foram feitas. Na verdade, ao invés de invadir a família com a desastrada burocracia que desgoverna os nossos serviços públicos, seria muito mais filosófico fazer uma reforma no sentido oposto.</div>
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Seria certamente razoável alterar as leis da nação para que elas se pareçam com as do quarto de brinquedos. As punições seriam muito menos horríveis, muito mais divertidas, e serviriam muito melhor para fazer com que os homens percebam que fizeram papel de idiota. Seria uma diferença bem vinda se um juíz, ao invés de botar um chapéu preto, botasse um chapéu de burro, ou se pudéssemos botar um banqueiro de castigo olhando para o canto.</div>
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Esta opinião, é claro, é rara e reacionária, seja o que isto queira dizer. A educação moderna é baseada no princípio de que o pai ou a mãe têm mais chance de serem cruéis que qualquer outra pessoa. Ora, qualquer um pode ser cruel, mas as maiores chances de crueldade estão nas multidões indiferentes e sem cor dos completos estranhos e dos mercenários mecanicistas, que agora é moda chamar de agentes de melhoria: policiais, médicos, deteives, inspetores, instrutores, etc.</div>
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A eles é dado poder arbitrário por existir aqui e ali um pai ou mãe criminosos, como se não houvesse médicos criminosos ou pedagogos criminosos. A mãe não toma sempre a melhor decisão sobre a dieta de seu filhinho, e eis que ela passa ao controle do Dr. Crippen. Pensa-se que um pai não ensina a seus filhos a mais pura moralidade, o que faz com que se os coloque sob a tutela de Eugene Aram.</div>
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Estes célebres criminosos não são mais raros em suas profissões respectivas que pais cruéis são na paternidade. Mas o caso é mais forte que isto, e não é sequer necessário apelar a estes criminosos.</div>
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As fraquezas normais da natureza humana explicarão todas as fraquezas da burocracia e dos governos do mundo todo. O oficial precisa apenas ser uma pessoa normal para ser mais indiferente em relação aos filhos dos outros que em relação aos seus próprios filhos, e até mesmo para sacrificar a prosperidade de outras famílias para avançar a da sua.</div>
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Ele pode estar entediado, ele pode ser subornado, ele pode ser brutal, por qualquer uma das mil razões que já fizeram um homem ser brutal.</div>
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Todo este senso comum elementar é completamente deixado de lado nos sistemas sociais e educacionais de hoje. Assume-se que o assalariado não irá abandonar seu trabalho, simplesmente por ele ser assalariado.</div>
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Nega-se que o pastor dará a vida por suas ovelhas, ou, já que estamos falando deste tipo de coisas, que a loba irá lutar para proteger seus filhoes. Querem que creiamos que as mães são desumanas, mas não que os oficiais são humanos. Que haja pais desnaturados, mas não paixões naturais. Ou, ao menos, que não haja nenhuma onde a fúria do Rei Lear ousou encontrá-las: no funcionário subalterno. Esta é a última descoberta brilhante para a educação das crianças, e o mesmo princípio que se aplica a elas é aplicado aos pais. Assim como ela assume que uma criança será certamente amada por todos, com a exceção de seu pai e sua mãe, ela assume que um homem pode ser feliz com qualquer pessoa, menos com a mulher que ele mesmo escolheu como esposa.</div>
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Assim o poder coercitivo do Estado prevalece sobre a promessa livre da família como oficialismo formalizado. Este, contudo, não é o mais coercitivo dentre os elementos coercitivos da comunidade moderna. Um poder externo ainda mais inescrupuloso e rígido é o do emprego e desemprego na indústria. Um inimigo ainda mais feroz da família é a fábrica. Entre estas coisas mecânicas modernas a instituição natural antiga não está sendo reformada, modificada ou mesmo podada: ela está sendo dilacerada. E ela não está sendo dilacerada no sentido de uma metáfora verdadeira, como a de um ser vivo preso em uma engrenagem medonha de uma máquina. Ela está sendo, literalmente, rasgada ao meio, como quando o marido vai para uma fábrica, a esposa para outra, e a criança para uma terceira. Cada um deles se torna o servo de um grupo financeiro diferente, que cada vez mais ganha o poder político de um grupo feudal. Mas enquanto o feudalismo recebia a lealdade das famílias, os senhores do novo estado servil recebem apenas a lealdade de indivíduos, ou seja, de homens solitários e até mesmo de crianças perdidas.</div>
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Diz-se, por vezes, que o socialismo ataca a família, o que se baseia em pouco mais que no acidente de alguns socialistas apoiarem o amor livre. Eu já fui socialista, não sou mais, e em momento algum eu acreditei no amor livre. É verdade, acredito, que em um sentido amplo e inconsciente o socialismo de Estado encoraja a arrogância coercitiva de que venho tratando. Mas se é verdade que o socialismo ataque a família na teoria, é muito mais verdade que o capitalismo a ataca na prática.</div>
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É um paradoxo, mas um fato puro e simples, que as pessoas nunca reparam em algo se sua existência é prática. Homens que apontariam uma heresia calam-se diante de um abuso. Quem quer que duvide deste paradoxo deve imaginar os jornais imprimindo, do lado da Lista de Honrarias, uma lista de preços de baronatos e títulos de cavalheiro, ainda que todos saibam que eles são vendidos e comprados.</div>
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A fábrica está destruindo a família na prática, e não precisa depender de nenhum pobre teórico enlouquecido que sonhe em destruí-la na teoria. O que a destrói não é nada tão plausível quanto o amor livre, sim algo que poderia ser descrido como o medo forçado. É uma punição econômica, mais temível que a punição jurídica, o que ainda nos pode levar à escravidão como única segurança.</div>
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Desde seus primeiros dias na floresta, este agrupamento humano teve que lutar contra monstros selvagens, e agora está lutando contra máquinas selvagens. Ele só conseguiu sobreviver então, e só conseguirá sobreviver agora, através de uma forte santidade interna, um juramento tácito ou uma dedicação mais profunda que a da cidade ou da tribo. Mas ainda que esta promessa tenha sempre estado presente, em um dado momento pivotal da nossa história ela tomou uma forma especial, que tentarei esboçar no próximo capítulo. Este ponto pivotal foi a criação da Cristandade pela religião que a criou. Nada destruirá o triângulo sagrado, e até mesmo a Fé cristã, a mais espantosa revolução que já aconteceu nas mentes, serviu apenas, num certo sentido, para virar de cabeça para baixo este triângulo. Ela levantou um espelho místico em que a ordem das três coisas foi revertida, e acrescentou uma Sagrada Família, composta de filho, mãe e pai, à família humana composta de pai, mãe e filho. </div>
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<span style="background-color: #e8e8e8; border-left: 5px solid; border-top: 1px dotted; color: #555555; display: block; font-size: small; padding: 1em;"> <span style="font-style: italic;">Este é um trabalho em curso; antes de atingir sua forma final para publicação impressa, este texto ainda será cotejado novamente com o original, e a ele serão acrescentadas notas explicativas que facilitem sua compreensão pelo leitor atual.<br /><br />Ele está sendo publicado aqui à medida que o trabalho progride, para possibilitar um acesso ao menos parcial dos leitores brasileiros a esta obra do grande escritor inglês.<br /><br />Como esta versão é preliminar, pedimos sinceras desculpas por quaisquer enganos e agradecemos toda sugestão e auxílio que nos venham a ser prestados.</span></span>
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<span style="font-size: small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div>
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<span style="font-size: x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>
Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-40814300816578739602011-08-09T18:26:00.000-07:002011-08-09T18:26:19.460-07:00Um problema de definição<span style="font-size: small;"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=892805&tit=Um-problema-de-definicao" target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 03/06/2009 | Carlos Ramalhete</span> <br />
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<div style="text-align: justify;">A diferença maior entre uma sociedade saudável e uma sociedade em franco processo de decadência é a manutenção de uma ordem relativamente conforme à natureza humana. Quando uma sociedade perde os critérios naturais, o orgulho dos homens sempre a conduz a tentativas de substituição do natural por invencionices autodestrutivas.<br />
<a name='more'></a></div><div style="text-align: justify;">Um tal caso é o da confusão atualmente em curso entre casais naturais, feitos de homem e mulher unidos para o auxílio mútuo e a procriação, e as chamadas uniões homoafetivas. Aqueles são uma instituição natural, sem a qual uma sociedade não pode perdurar. Estas são um fenômeno diverso, que não pode ser comparado com uma união matrimonial natural. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Pode haver um componente sexual numa união afetiva, como pode não haver. Em termos práticos, não há razão alguma para que seja tratada diferentemente pelo Estado a dupla do mesmo sexo que vive junta e tem relações sexuais, a dupla de irmãs solteiras que vivem juntas e a comunidade de hippies ou religiosos. O que ocorre sem vítimas entre quatro paredes não é da alçada do Estado, e não pode ser usado por ele para criar equivalências ao matrimônio natural.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Faz-se hoje uma daninha confusão entre o matrimônio e algumas uniões que por sua própria natureza não podem levar à continuação natural da sociedade através da procriação. Esta confusão é tanto mais estranha em um momento social em que o sexo é tratado como ato meramente fisiológico, tendo por fim o prazer e excluindo a procriação. Problemas reais e antigos, como a partilha de patrimônio construído em conjunto por pessoas que vivem juntas – irmãs solteironas ou duplas de amigos, com ou sem sexo – , já são tratados como desculpa para aplicar a uniões que não são matrimônios as regras matrimoniais... desde que haja sexo. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">O problema deveria ser resolvido deixando cada um definir para quem vão os seus bens; não interessa ao Estado saber se há sexo com os herdeiros desejados. Mas não: se há sexo, vira sucedâneo de matrimônio. Se não há, azar de quem ajudou a construir um patrimônio! O Estado invade os quartos de dormir e faz do sexo a origem do matrimônio, ao mesmo tempo em que prega que sexo é um ato fisiológico a ser feito por todos, solteiros ou casados. Contradição, teu nome é decadência!</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Desta confusão surge outra: se a união de solteiros que fazem sexo vira um matrimônio por uma penada do juiz ou legislador, a adoção de uma criança passa a ser desejada e tida como o próximo passo para a criação de uma “família” à moda Frankenstein. Trata-se de uma crueldade para com a criança, uma crueldade que o Estado não tem o direito de fazer. O Estado não pode impor a uma criança passar o resto da vida tentando explicar que em seus documentos há dois “pais” ou duas “mães”, e nenhum membro do outro sexo. Uma pessoa que entregue seu filho para que seja criado por uma dupla de solteiros do mesmo sexo – mais uma vez, com ou sem sexo – está esticando ao limite o seu pátrio poder. Já o Estado deve ter limites muito mais rígidos, por agir em nome de todos. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Quando uma criança é entregue ao Estado, ele deve agir com a máxima prudência e não se desviar do mais comum e do mais estabelecido; agindo em nome do povo, ele é obrigado moralmente a fazer o uso mais conservador e mais restrito do pátrio poder, que recebeu por substituição temporária e não lhe pertence.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Não é à toa que ao cidadão é permitido fazer o que a lei não proíbe, e ao Estado é proibido fazer o que a lei não autoriza: o Estado deve agir de forma contida, ou estará indo além de seu papel e de suas prerrogativas. Ao Estado não compete fazer revolução. </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Na adoção, é necessário evitar toda e qualquer situação incomum e manter-se nos estritos limites do natural; tal como o Estado não pode registrar como “pais” de uma criança uma comunidade (hippie, religiosa etc.), tampouco pode fazê-lo com uma dupla do mesmo sexo que se vê como casal. Isto seria colocar a criança em uma situação atípica, forçando-a a passar a vida explicando que, sem ter escolha, tornou-se a vanguarda de uma tentativa de revolução contra a natureza.</div><br />
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<div style="text-align: center;"><span style="font-size: small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-56364269890367829702011-08-08T08:34:00.000-07:002011-08-08T06:11:01.700-07:00As raízes e seus ramos<div style="text-align: justify;"><font size="2"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=822190&tit=As-raizes-e-seus-ramos" target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 28/10/2008 | Carlos Ramalhete</font>
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<br />As primeiras universidades foram instituições religiosas. Do mesmo modo, os valores humanos dos laicistas mais exacerbados – como a dignidade da pessoa humana, o valor da vida ou a adesão a um código ético – são versões reduzidas e resumidas de preceitos cristãos.
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<br />Contudo, em alguns meios de intelectualidade rasa, é moda prezar os valores oriundos do cristianismo e, ao mesmo tempo, desprezar a religião que os gerou. Antes dela, na Roma pagã, por exemplo, a vida humana pouco valia: o pai tinha direito de vida e morte sobre toda a família, e no circo o “palhaço” era morto por feras. Se não fosse a ascensão do cristianismo, ainda hoje seria assim; se o cristianismo desaparecesse, os valores humanistas também desapareceriam, por falta de base. Sem sua base cristã, a única razão para aceitar estes valores é “porque sim”.<a name='more'></a>
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<br />O fato é que nossa sociedade está passando por uma séria crise de adolescência, revoltando-se contra as origens de tudo o que ela diz prezar. Esta crise também se reflete nas universidades, de que um ou outro deseja expulsar a expressão religiosa. Ora, ao negar o desejo humano de Deus, faz-se apenas com que falsos deuses – partidos, “celebridades” ou teorias da moda – tentem inutilmente preencher o vazio. Além disso, proibir alguém de professar sua fé no ambiente universitário é tão arbitrário quanto exigir que se siga, obrigatoriamente, uma religião. É a ditadura do laicismo.
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<br />Quando começou esta separação artificial entre os valores que vêm do cristianismo e a fé que lhes deu origem, há coisa de 200 anos, seus defensores ainda pregavam a necessidade da crença religiosa como meio de garantir o bom comportamento da “massa ignara”. Depois, nem isso mais admitiam: no Rio há ainda a Igreja Positivista do Brasil, a que pertencia Benjamin Constant, que mantém uma imitação de capela católica com Gutenberg e Descartes no lugar dos santos, qual museu de uma tentativa frustrada de criar o homem sem Deus, há cerca de um século.
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<br />Hoje esta crise adolescente está em seu auge, com a sociedade querendo negar a figura do pai – Deus – e ver-se livre da figura da mãe – a cristandade –, sem aceitar que é deles que vem. Pipocando como espinhas, ateus militantes vendem mentiras requentadas e movimentos laicistas procuram impedir a expressão religiosa, sem que percebam que estão atacando a religião em nome de valores que provêm dela mesma, de valores que, antes da ascensão do cristianismo, seriam tidos por loucura.
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<br />É pena, mas até mesmo na universidade este tipo de contra-senso ainda aparece. É perfeitamente normal que, como o adolescente que não precisa mais ser guiado pela mão ao atravessar a rua, a universidade tenha se distanciado um pouco de suas origens. A especialização extremada do ambiente acadêmico de hoje, em que o químico ignora o que estuda o biólogo, também deixa pouco espaço para a discussão teológica, forçosamente mais abrangente que os caminhos hoje separados das ciências. Mesmo assim, apenas em meio a pessoas pouco afeitas ao raciocínio lógico seria concebível não perceber a tremenda contradição que é pregar valores que vêm da religião e ao mesmo tempo atacá-la; na universidade, seria de se esperar que isto não acontecesse. Afinal, crises de histeria adolescente não ficam bem sequer nos adolescentes, quanto mais em universidades.
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<br />O papel da religião na universidade, assim, é cuidar para que ela não se distancie dos valores em que se baseiam tanto ela quanto a própria sociedade ocidental. Como o tronco de uma árvore, que comunica às raízes o que vem das folhas e às folhas o que vem das raízes, a presença religiosa impede que a ciência perca seu norte ético. Para tal, deve haver na universidade ao menos um chamado à oração e à meditação, um reconhecimento explícito da necessidade de proteção divina (como há na Constituição, aliás), uma capela, atos de culto oficiais e imagens religiosas...
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<br />Em suma: apoio, abertura e tolerância para com as manifestações religiosas de todos os que, juntos, compõem este “universo de mestres e estudiosos” chamado universidade. Só assim ela pode evitar a triste posição de adolescente mimado que renega a origem de sua existência, valores e sobrevivência.
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<br /><div style="text-align: center;"><font size="small">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</font></div><div style="text-align: center;"><font size="x-small"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </font></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-32095624254711766502011-08-05T21:45:00.000-07:002011-08-07T19:50:58.713-07:00São Paulo ou “Seu” Paulo?<font size="2"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=912916&tit=Sao-Paulo-ou-Seu-Paulo" target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 09/08/2009 | Carlos Ramalhete</font><br /><br /><div style="text-align: justify;">Qual será o dano ao turismo provocado pela retirada, à moda Taleban, da imensa estátua do Cristo Redentor que ofende os não-católicos que olhem para cima na antiga capital do país?<br /><br />O Ministério Público Federal (MPF) mandou tirar os crucifixos das repartições do estado de São Paulo, alegando que a sua presença ofenderia os não católicos. Mas... será que não deveríamos, então, falar do estado de “Seu” Paulo? Mais ainda, do estado do inominável, na medida em que São Paulo, em homenagem a quem o estado foi batizado, ops, nomeado, só recebeu esta homenagem por ter sido apóstolo cristão?<a name='more'></a><br /><br />Os judeus ortodoxos dão graças a Deus todos os dias por não terem nascido não judeus (“gói”). São Paulo, ou “Seu” Paulo, escreveu que “não há mais judeu nem grego”. A julgar pelo pensamento do MPF do estado Tal, deve haver um monte de suscetibilidades feridas nesta história. Melhor mudar o nome do estado. Ah, Santa Catarina também dança, assim como todas as cidades com nome de santos. O Estado do Amazonas, que recebeu este nome em homenagem a um povo da mitologia grega, também pode ofender quem não acredita nele. O Rio de Janeiro, por trazer no nome do mês (que também teria que mudar) uma referência à divindade romana Janus, o deus de duas caras, também deve provocar comichões e abespinhar suscetibilidades. Ih, qual será o dano ao turismo provocado pela retirada, à moda Taleban, da imensa estátua do Cristo Redentor que ofende os não católicos que olhem para cima na antiga capital do país?<br /><br />Creio ser bastante evidente, para quem não faz parte de uma minoria ínfima de gente cuja sensibilidade à flor da pele torna a convivência cotidiana um exercício de masoquismo e suscetibilidades feridas, que o MPF pisou na bola. Epa, eu não gosto de futebol. Devo proibir esta expressão? Não. Se eu não gosto de futebol, o problema é meu. Não posso me ofender com a onipresença do jogo e de suas metáforas.<br /><br />Ainda mais que futebolista, contudo, a nação brasileira é culturalmente católica. Os nomes de santos são os nomes das pessoas, e a própria noção de bem e de mal é definida em moldes católicos; podemos mesmo dizer que o padrão da sociedade é católico.<br /><br />Para a imensa maior parte dos brasileiros, católicos ou não, um crucifixo é um símbolo da Justiça, do Bem. Ver uma ofensa a outras crenças na presença de um crucifixo implica necessariamente em vê-la nos nomes de estados e cidades, nos nomes próprios das pessoas, na organização social do país, nos dias da semana, nos meses, no preâmbulo da Constituição Federal...<br /><br />Querer proibir a presença do crucifixo implica em querer proibir um dado constitutivo da própria nacionalidade brasileira, importar uma noção a nós estranha do que seja a Justiça, o Bem, o certo e o errado. O Brasil não surgiu nem subsiste em um vácuo; temos uma cultura própria, com base lusitana e católica, que independe até mesmo da própria religião seguida por cada brasileiro.<br /><br />O brasileiro protestante, o brasileiro espírita, o brasileiro judeu, muçulmano ou ateu é em grande medida culturalmente católico. Cada um deles passou a vida dentro de uma sociedade que define seus padrões de comportamento dentro de uma matriz católica e que não pode ser explicada ou compreendida sem constante referência à catolicidade de sua origem, bem como à língua portuguesa, a costumes africanos e indígenas etc.<br /><br />Ofender-se com símbolos católicos significa, em última instância, ofender-se com o Brasil, significa negar as origens e a presença da cultura brasileira, com todos os seus matizes. Mais ainda: para desgosto dos católicos mais ortodoxos, a percepção brasileira típica destes símbolos católicos frequentemente é operada em chave sincrética, vendo nos santos orixás africanos ou entidades espíritas.<br /><br />O que neles não se vê, o que apenas o MPF vê, é um instrumento de proselitismo católico. Um crucifixo não faz de um lugar ou de uma pessoa algo católico, tal como o Rio Amazonas não leva ninguém a tomar como verdade a mitologia grega. As imagens sacras, no Brasil, são percebidas como símbolos do Bem e do Justo, não como afirmações de uma dada fé. Melhor seria se o MPF deixasse de lado esta estranha “cruzada” contra os crucifixos e procurasse fazer o bem e promover a justiça.<br /></div><br /><div style="text-align: center;"><font size="small">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</font></div><div style="text-align: center;"><font size="x-small"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </font></div>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-15510866892308775842011-08-05T21:05:00.000-07:002011-08-05T21:13:29.814-07:00Campanha exagerada<span style="font-size:85%;"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1154198&tit=Campanha-exagerada" target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 04/08/2011 | Carlos Ramalhete</span><br /><br /><div style="text-align: justify;">Para espanto de alguns, uma pesquisa indicou que a maior parte da população brasileira se manifesta contrária à confusão recentemente feita pelo Supremo entre constituir família e ter uma relação afetiva sexuada. Ora, na cultura brasileira não é polido proferir opiniões contrárias ao discurso oficialmente aceito; se 55% da população declaram formalmente sua insatisfação com algo de que só se fala bem na mídia, pode-se ter certeza de que a maioria é, na verdade, muito maior. <a name='more'></a><br /><br />Mas essa polidez está sendo esticada até os limites. Já ouvi muita gente, de todos meios e classes sociais, confessar exasperada que já não aguenta mais. Os refugiados das enchentes desapareceram, para se falar dos “gays”. Os viciados em drogas desapareceram, para se falar dos “gays”. Os atletas, os heróis, os bombeiros presos, todos os personagens do drama público estão sendo apagados assim que possível da tela da tevê e das páginas dos jornais, para que se possa, mais e mais, falar dos “gays”.<br /><br />Uma campanha tão exagerada, tão onipresente, acaba sendo um tiro que sai pela culatra. Aquilo que a imensíssima maioria da população sempre tolerou e considerou uma questão pessoal de quem tenha estes desejos está sendo tão superexposto, tão propagandeado, tão cantado em verso e prosa, que a paciência da população está se esgotando.<br /><br />Como sempre, os menos racionais, os mais violentos, os mais estúpidos são os primeiros a passar dos limites. A tolerância habitual do povo brasileiro está aos poucos dando lugar a uma exasperação que, quando combinada com boçalidade e fartas doses de álcool, acaba levando a casos horrendos como o ataque a uma dupla de pai e filho, ou mesmo a ataques reais a homossexuais.<br /><br />No discurso do “movimento gay” sempre havia sido necessário incluir brigas de travestis e confrontos entre garotos de programa e seus fregueses para engrossar as estatísticas de ataques a homossexuais. Infelizmente, ataques reais agora estão se tornando cada vez mais presentes e mais violentos, tornando perigoso até mesmo ser percebido como homossexual.<br /><br />A tolerância, traço tão digno e tão nobre da cultura brasileira, está se esgarçando. Seria bom se os responsáveis por estas campanhas se dessem conta disso e repensassem seus objetivos e meios, antes que aqueles que estariam supostamente sendo defendidos sejam ainda mais vitimados. Mais vale preservar a tolerância, viver e deixar viver, o que se torna difícil quando os limites da civilidade são postos a prova a cada instante.<br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-38271309499524408212011-08-04T19:50:00.000-07:002011-08-04T19:56:48.780-07:00Apolo e Dionísio<span style="font-size:85%;"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1151712&tit=Apolo-e-Dionisio">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 28/07/2011 | Carlos Ramalhete<br /></span><br /><div style="text-align: justify;">Nesta semana que passou houve duas tragédias, no sentido popular do termo: o horrendo assassinato de dezenas de pessoas, inclusive crianças, na Noruega, e a triste morte da cantora Amy Winehouse.<br /><br />O que mais me chamou a atenção foi o contraste absoluto entre os assassinos, entre o norueguês apolíneo que mata crianças e a inglesa dionisíaca que mata a si mesma.</div><p style="text-align: justify;">Apolo, deus do Sol, simbolizava a ordem, a razão, a clareza, mas as flechas de seu arco causavam a peste. Dionísio, deus do vinho, simbolizava a embriaguez, a entrega aos prazeres da vida, os excessos. Sob o nome de Baco, era celebrado pelos romanos nas bacanais.<a name='more'></a><br /><br />E é isso que tivemos, em versão desordenada: de um lado um louco apolíneo, disparando a morte em nome de uma ordem que só ele consegue ver, destruindo, matando, semeando cadáveres em uma sociedade que se acreditava pacífica. Do outro, uma mulher de enorme talento, entregando-se de forma tão desordenada ao que para ela seria uma busca de vida, que acabou por encontrar a morte. A vida desordenada e entregue aos mais loucos excessos da Dionísio inglesa desemboca na morte, exatamente como a falsa ordem do Apolo norueguês semeia a desordem mais completa e a morte mais insensata.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Dois excessos, dois erros fatais, vindos de direções opostas e desembocando juntos em gélidas sepulturas. Duas leituras alucinadas de uma mesma realidade, em que o amor dos jovens casais que passeiam de mãos dadas vale menos que os sonhos da falsa ordem do norueguês ou os prazeres delirantes das drogas da inglesa. Em que a vida – que deveria ser buscada por ambos, que deveria ser ordenada, não apagada, pelo apolíneo e aproveitada, não consumida, pela dionisíaca – perde totalmente o seu valor.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">São casos extremos, aparentemente contrastantes, mas que têm na sua base a mesma desordem, a mesma falta de percepção do Bem naquilo que nos cerca. Ambos procuraram, cada um a seu modo, mas ambos desordenadamente, um sentido no mundo, que não conseguiram perceber. O apolíneo buscou construí-lo assassinando os outros, e a dionisíaca assassinando, lentamente, a si mesma.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Para ambos, o mundo era insuportável; um o trucida, a outra se esconde dele. Para ambos, o mundo era caótico: um tenta ordená-lo derramando sangue inocente, a outra transforma o caos em delícia com o falso auxílio da droga.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Melhor seria se conseguissem – e nós, ao contrário deles e de suas vítimas, ainda podemos tentar – perceber e celebrar a ordem existente, a beleza do mundo, belo por ser expressão ordenada do Bem.</p><br />-<br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-76509750714056266962011-07-26T07:14:00.000-07:002011-07-26T07:27:50.775-07:00IV - A SUPERSTIÇÃO DO DIVÓRCIO (4)<div style="text-align: center;"> IV<br />A SUPERSTIÇÃO DO DIVÓRCIO (4)<br /></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;">Autor: G.K. Chesterton<br /><span style="font-weight: bold;">Tradução</span>: ©Prof. Carlos Ramalhete</span><br /></div><span style="line-height: 140%;"><div style="text-align: justify;"><br />Já mencionei o famoso, ou antes infame, nobre que teria dito que o povo deveria comer capim; talvez tenha sido uma sugestão infeliz para um nobre dar, já que este regime, ao que se saiba, só foi feito por um personagem muito nobre. Talvez, contudo, haja uma simplicidade seria digna de um sultão, ou mesmo de um cacique selvagem, nesta solução; é neste toque de inocência autocrática que eu mais insisti ao tratar das reformas sociais de nossos dias, especialmente da reforma social conhecida como divórcio.<br /><br />Minha preocupação principal é com o método arbitrário, mais que com o resultado anárquico. Assim como o velho tirano mandaria muitos homens comer capim, o novo tirano faria de muitas mulheres novilhas soltas no pasto. De qualquer modo, para variar um pouco o simbolismo lendário, este rei de conto de fadas nunca parece perceber que a coroa de ouro na cabeça é um símbolo menos, não mais, sagrado e sacramentado que a aliança de ouro no dedo da mulher.<a name='more'></a><br /><br />Esta mudança está sendo obtida pelo governo sumário e até mesmo secreto que hoje sofremos. A acusação proordial que lhe fazemos é que ainda que se tratasse realmente de uma emancipação, ela seria uma emancipação apenas na sua forma. Não tratarei detalhadamente do que dizem, pois outros o podem fazer, mas concluo apontando, em grandes linhas e em quatro tópicos, as defesas práticas do divórcio tal como são hoje feitas. Peço apenas ao leitor que repare que elas têm um único ponto em comum: o fato de que todos os argumentos também são usados para defender uma reforma social que as pessoas mais sensatas já estão acusando de ser uma escravidão.<br /><br />Primeiro: é sintomático que as últimas propostas práticas estejam preocupadas com o caso dos que já estão separados e com os passos que eles deveriam tomar para divorciar-se. Há um espírito, que permeia a nossa sociedade de hoje, que permite à exceção alterar a regra: o exílio afasta o patriotismo, o órfão derruba a paternidade, e até mesmo a viúva ou a ex-mulher pode destruir a posição da mulher.<br /><br />Percebe-se algo desta tendência na misteriosa e desafortunada nação a quem foi dado tanto mudar, de uma cruzada na Rússia a uma casa de campo em South Bucks. Disseram-nos para tratar o judeu errante como peregrino, enquanto tratamos o cristão errante como vagabundo. E este está pelo menos tentando voltar para casa, como Ulisses, enquanto aquele está, ao que tudo indica, fugindo de casa, como Caim.<br /><br />O desapegado, isolado, amorfo e deslocado é usado em toda parte como desculpa para alterar o que é comum, comunitário, tradicional e popular. E a alteração é sempre para o pior. A sereia nunca fica mais humana, apenas mais piscosa. O centauro nunca se torna mais humano, apenas mais equino. O judeu, de fato, não consegue internacionalizar a cristandade, só desnacionalizá-la. O proletário não acha fácil tornar-se um pequeno proprietário; é mais fácil tornar-se um escravo.<br /><table border="0"><tbody><tr><td colspan="4"><br /></td></tr><tr><td rowspan="2">Assim, o pobre homem que não consegue tolerar a mulher que ele escolheu dentre todas as mulheres do mundo não é encorajado a voltar para ela e tolerá-la, mas sim a escolher outra mulher que ele possa, depois de um tempo, recusar-se a tolerar. E em todos estes casos o argumento é o mesmo: o homem num estado deslocado é infeliz. Provavelmente ele é infeliz por ser anormal, mas se permite que ele desate o laço universal que manteve milhões de outros na normalidade. Por ele ter caído em um buraco, permite-se que ele cave túneis, como um coelho, e desestabilize todo o campo.<br /></td></tr><tr align="center"><td colspan="2"><span style="padding: 1em; margin-left: 5px; border-left: 5px solid ; border-top: 1px dotted; display: block; background-color:#e8e8e8; font-size:small;color:#555555;" ><span style="font-style: italic;">Este é um trabalho em curso. Ele está sendo publicado aqui à medida que o trabalho progride, para possibilitar um acesso ao menos parcial dos leitores brasileiros a esta obra do grande escritor inglês.</span></span></td></tr><tr><td colspan="4"><br /></td></tr></tbody></table>Em segundo lugar, como sempre ocorre ao lidar com estas experiências grosseiras, temos um argumento baseado no exemplo de outros países, especialmente de países novos. Assim os eugenistas dizem, solenemente, que houve experiências eugênicas de sucesso nos Estados Unidos. E eles mantém rigidamente a solenidade, ainda que se recusando ardorosamente que falo sério quando lhes digo que uma das experiências eugênicas nos Estados Unidos é uma experiência química, que consiste em transformar um homem negro na forma alotrópica de cinzas brancas. É uma experiência muito eugênica, já que o seu objetivo principal é desencorajar uma mistura interracial indesejada.<br /><br />Mas eu não gosto da experiência americana, por mais americana que ela seja, e confio e creio que ela não seja nem um pouco tipicamente americana. Ela representa, imagino, apenas um elemento na complexidade da grande democracia, ao lado de outros elementos malignos. Assim, eu não fico nem um pouco surpreso que as mesmas seções estranhas da sociedade que permitem que um ser humano seja queimado vivo também permitam a exaltada ciência da eugenia.<br /><br />O mesmo ocorre com o tema menos palpitante das leis sobre o álcool; dizem-nos que alguns coloniais primitivos promulgaram a lei seca, que estão agora tentando revogar, exatamente como nos dizem que promulgaram leis de divórcio, que estão agora tentando revogar. No caso do divórcio, pelo menos, o argumento baseado em precedentes distantes desabou sozinho; já há uma agitação a favor de menos divórcios nos Estados Unidos, enquanto na Inglaterra agita-se a favor de mais divórcio.<br /><br />Digo ainda que, quando se argumenta a partir da necessidade de aumentar a população, seria bom perceber para onde isso conduz. Afinal, é bastante duvidoso que a população aumente devido ao divórcio. Não é, contudo, o que ocorre com a poligamia; na Alemanha, já se defende a poligamia pelo apelo a esta necessidade. Mas devemos ir além da Alemanha, para examinar algo mais remoto e mais repulsivo. A mera população, junto com uma espécie de anarquia polígama, não parecerá uma idéia prática a quem quer que considere, por exemplo, como a Europa pôde manter-se à frente do resto da raça humana, em face das miríades caóticas da Ásia. Se a grande população fosse a pedra de toque do progresso e da eficiência, a China já seria há muito tempo o estado mais progressista e mais eficiente.<br /><br />De Quincey resumiu esta enormidade em uma frase, talvez, mais impressionante, ou mesmo apavorante, que todas as perspectivas da arquitetura oriental e todos os panoramas dos campos de ópio em meio aos quais ela surge: “o homem, nessas regiões, é uma erva daninha”.<br /><br />Muitos europeus, preocupados com o jardim do mundo, temeram que por alguma fatalidade futura estas ervas se espalhassem e o sufocassem; nenhum europeu, no entanto, jamais quis que as flores fossem como as ervas. Mesmo se fosse verdade, assim, que afrouxar o laço conjugal levasse necessariamente a um aumento da população, mesmo se isso não fosse negado pelos próprios fatos em muitos países, deveríamos ter uma sólida base histórica para não aceitar este raciocínio. Deveríamos continuar a suspeitar do paradoxo pelo qual abolir a família encorajaria a formação de famílias maiores.<br /><br />Finalmente, creio que parte da defesa da nova proposta foi considerada um pouco grosseira demais até mesmo por seus defensores; soube inclusive que eles teriam feito emendas modificando o princípio. Elas seriam basicamente, primeiro que o homem deveria comprometer-se a dar um pagamento em dinheiro para a mulher que ele abandonasse e, segundo, que alguma espécie de magistrado trataria do assunto.<br /><br />Para o meu proósito, basta notar que há algo do sabor inconfundível da sociologia a que resistimos nestes dois tocantes atos de fé: o talão de cheques e o advogado. Muitos dos reformadores matrimoniais da moda ficariam levemente chocados com qualquer sugestão de que uma pobre diarista possa recusar este dinheiro, ou que um juiz bom e justo não tenha o direito de dar este conselho. Afinal, os reformadores do matrimônio são gente muito distinta, com alguas honrosas exceções, e nada se encaixaria mais perfeitamente na sua respeitabilidade bem azeitada que a sugestão de que a traição seja melhor compensada pela indenização, cavalheiros, a pesada indenização paga pelo Sr. Serjeant Buzfuz, ou que a tragédia seja mais bem tratada pela arbitragem tão espiritual do Sr. Nupkins.<br /><br />Devo ainda acrescentar uma palavra a este esboço apressado dos elementos do caso. Deixei deliberadamente de lado o argumento e o aspecto mais elevados, que percebem no matrimônio uma instituição divina, pela simples razão de que quem crê nisso não crê no divórcio e eu estou discutindo com os que nele crêem. Não os peço que reconheçam o valor do meu credo, ou de qualquer credo; eu poderia até mesmo desejar que eles não me pedissem tão frequentemente que eu reconhecesse algum valor na sua sociedade moderna, plutocrática, venenosa e sem valor algum. Mas se fosse possível mostrar, como creio que seja, que uma visão histórica longa e uma experiência política paciente podem ao menos aucmular evidências científicas sólidas da necessidade vital do voto matrimonial, então não me é possível conceber tributo maior que o de quem, em qualquer fé, afirmou flamejantemente desde o mais negro princípio aquilo que o brilhantismo mais tardio consegue descobrir, lentamente, apenas no final.<br /><br /></div></span><span style="padding: 1em; border-left: 5px solid ; border-top: 1px dotted; display: block; background-color:#e8e8e8; font-size:small;color:#555555;" > <span style="font-style: italic;">Este é um trabalho em curso; antes de atingir sua forma final para publicação impressa, este texto ainda será cotejado novamente com o original, e a ele serão acrescentadas notas explicativas que facilitem sua compreensão pelo leitor atual.<br /><br />Ele está sendo publicado aqui à medida que o trabalho progride, para possibilitar um acesso ao menos parcial dos leitores brasileiros a esta obra do grande escritor inglês.<br /><br />Como esta versão é preliminar, pedimos sinceras desculpas por quaisquer enganos e agradecemos toda sugestão e auxílio que nos venham a ser prestados.</span></span>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-38714924396046148442011-07-23T16:38:00.000-07:002011-07-23T16:44:09.855-07:00Universidade para quem?<span style="font-size:small;"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=699656&tit=Universidade-para-quem" target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 27/09/2007 | Carlos Ramalhete</span><br /><br /><div style="text-align: justify;">Em 1919 meu avô fez vestibular, com exames orais e escritos. Dentre outras, havia prova oral de latim. Em 2001, um analfabeto passou em nono lugar no vestibular. No princípio do século passado, havia faculdades de Filosofia, Direito, Medicina e Engenharia. Ano passado, vi cartazes anunciando uma faculdade de “visagismo e estética capilar” (sim, senhoras e senhores, faculdade de cabeleireiro!).<a name='more'></a><br /><br />Alguma coisa está errada. Não adianta tentar tapar o sol com uma peneira: algo está muito errado. Perdeu-se, na verdade, o sentido da expressão “ensino superior”. O ensino superior, como o nome indica, deveria ser de nível mais elevado. Em termos de ensino, um nível mais elevado significa algo mais árduo, mais complexo, mais aprofundado. Peço perdão aos cabeleireiros, visagistas e esteticistas capilares, mas dificilmente se poderia argumentar que “escova japonesa” é matéria para curso superior.<br /><br />Por mais que doa ao igualitarismo feroz que hoje domina a sociedade, é necessário reconhecer que o ensino superior deve forçosamente ser restrito para que continue sendo superior. Não falo de restrições financeiras, mas de uma restrição natural: a intelectual. Há quem tenha capacidade intelectual para estudos superiores, e há quem não a tenha. Pessoas péssimas podem tê-la, e pessoas maravilhosas podem não a ter; não há nisso nenhum mérito próprio.<br /><br />Quando, contudo, um contra-senso tão absoluto quanto “universidade para todos” se torna projeto de governo, vale temer que o próximo projeto seja engravidar todos os homens ou fazer salada de todas as plantas. É tão possível ter-se uma universidade que realmente seja um local de ensino superior e ao mesmo tempo tenha “todos” como alunos quanto prometer a gravidez ou a palatabilidade universais.<br /><br />Há pessoas que têm fortíssimos talentos naturais, sem que tenham a capacidade intelectual ou o interesse necessários para passar por um verdadeiro ensino superior. Conheço vendedores que ficariam ricos com uma loja de cortadores de grama no deserto do Saara, mas penaram enormemente enquanto confinados aos bancos escolares e simplesmente não têm interesse algum pela leitura. Eu, por outro lado, iria à falência vendendo cerveja gelada e água mineral no mesmo deserto, mas preciso me conter para não gastar todo o meu parco salário em livros. Isso não me faz melhor nem pior que o bom vendedor; seria contudo impossível ignorar que somos diferentes.<br /><br />Para que uma sociedade seja saudável, é necessário que haja pessoas diferentes: bons vendedores, bons carpinteiros, bons pedreiros, bons agricultores e bons estudiosos. Uma política educacional sensata não pode nem querer fazer universitários de todos nem, como se tentou fazer no Camboja, transformar toda a população em agricultores. O que se pode obter com este tipo de política é simplesmente o fim do ensino superior ou da agricultura. No Camboja houve fome generalizada; no Brasil temos a mais triste indigência intelectual.<br /><br />Como parte do mesmo projeto de massificação da faculdade, foram para escanteio os cursos técnicos, da escola normal aos cursos de metalurgia, química e outras disciplinas, que levaram ao crescimento do país na segunda metade do século passado. Hoje não vale mais a pena fazer um curso técnico: às disciplinas especificamente técnicas tornou-se obrigatório somar todas as disciplinas do Ensino Médio, fazendo com que os cursos técnicos demorem um tempo enorme, valendo mais a pena – justamente! – fazer um curso dito superior.<br /><br />O resultado é que pessoas talentosas, que seriam excelentes técnicos, artesãos, pedreiros, professoras do ensino fundamental ou vendedores, são mantidos afastados do mercado de trabalho por anos, ocupando vagas do ensino superior. Ao mesmo tempo, as disciplinas do ensino superior são empobrecidas e niveladas por baixo, para que a imensa multidão de pessoas que não deveriam estar lá tenha capacidade de entendê-las. As faculdades de Direito formam hoje técnicos em legislação positiva, que sabem direitinho qual é o artigo do Código que se aplica a tal situação sem que sejam capazes de dizer o que é o Direito, de dissertar sobre o conceito de justiça ou, sequer, de passar na prova da OAB. Ao mesmo tempo, o diploma do IME, do ITA ou de outras instituições que ainda se podem dizer de ensino superior não é mais nem menos “diploma universitário” que o obtido pelo graduado em moda, dança, “visagismo e estética capilar” ou reforma de móveis.<br /><br />Se quiserem que eu engravide, ao menos já sou barrigudinho. Só tenho medo da salada de comigo-ninguém-pode.<br /></div><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-40218367810521360652011-07-22T19:45:00.000-07:002011-07-22T19:52:20.458-07:00Autorização para matar<span style="font-size:small;"><a href="http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=1149399&tit=Autorizacao-para-matar." target="_blank">Gazeta do Povo</a> - Publicado em 21/07/2011 - Carlos Ramalhete</span><br /><br />Um americano viajou à Irlanda, e lá ficou surpreso com a quantidade de pessoas com o que antigamente se chamava mongolismo e hoje é chamado “Síndrome de Down”. Raríssimas na sociedade americana, estas pessoas a quem Morris West se referiu como “aqueles a quem Deus deu a graça da eterna inocência” são muito mais comuns na Irlanda.<br /><br />A razão da diferença proporcional é simples: nos EUA, eles são mortos. Mortos em condições controladas e assépticas, em clínicas esterilizadas, assim que o pré-natal faz com que os pais saibam que o filho é assim. Já na Irlanda, onde o aborto é proibido, a pena de morte não é aplicada de modo tão automático.<a name='more'></a><br /><br />Aqui no Brasil estamos no meio-termo: muitos – não todos – são mortos; ilegalmente, mas não menos fatalmente. Mas ressurge a ideia, já proposta pelo nazismo, de que o Estado pode declarar que há vidas humanas sem valor. Vários juízes já deram autorização para que fossem abortados bebês com má-formação do crânio ou do cérebro, considerando que a condição deles seria “incompatível com a vida”, e por isso a vida que eles têm pode ser exterminada. Agora, ao que se diz, a questão vai para o Supremo Tribunal.<br /><br />Eu poderia citar casos, como o do funcionário francês que vive, trabalha e criou dois filhos apesar de ter uma má-formação cerebral que lhe valeria a pena de morte se seu caso houvesse sido julgado por um desses juízes, ou o da menininha Vitória, que nasceu sem crânio e vive, ri e alegra seus pais em São Paulo desde que nasceu, há um ano e meio. Mas não interessa.<br />O que apavora é que a possibilidade de problemas, ou mesmo de morte precoce, possa valer uma autorização automática para matar.<br /><br />Ora, todos nós morreremos. O mais saudável dos seres humanos pode morrer amanhã, e pessoas com doenças graves podem viver longos anos, muitas vezes criando coisas que perduram para sempre. Matar agora por ser provável que se morra amanhã é um passo gigantesco e apavorante: é considerar que se pode matar, que se pode julgar que uma vida presente não tem valor. Hoje podem ser crianças doentes. Amanhã podem ser idosos, como já ocorre na Holanda. Depois de amanhã, podem ser as crianças com o sexo “errado”, como já ocorre na China, podem ser os homossexuais, podem ser quaisquer pessoas que se julgue não serem “produtivas o bastante”. O céu, ou melhor, o inferno é o limite.<br /><br />O perigoso é passar por esta primeira porta, é achar que se pode declarar que uma vida não tem valor. Se existe a permissão para matar, quem é a vítima é apenas um detalhe.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-82029721716731620232011-07-22T19:24:00.000-07:002011-07-22T19:44:34.492-07:00O estudo da Filosofia<span style="text-decoration: underline;">22-jun-2011</span><br /><br /><div style="text-align: justify;">Movido por um saudável entusiasmo com São Tomás de Aquino, há quem não entenda muito bem o que é a filosofia e para que ela serve, e assim corra o risco de cair numa idolatria pseudo-tomista.<br /><br />Ora, ensina-nos o próprio São Tomás que "<span style="font-style: italic;">studium philosophiae non est ad hoc quod sciatur quid homines senserint, sed qualiter se habeat veritas rerum</span>" ("o estudo da filosofia não trata do que as pessoas pensaram, mas da verdade das coisas"; isso deveria ser tatuado no lado de dentro das pálpebras de quem quer que procure estudar filosofia).<a name='more'></a><br /><br />Filosofia <span style="font-weight: bold;">é um instrumento</span>, é uma forma de organizar a razão... para entender o mundo de maneira correta. Ela não começa e nem acaba com S. Tomás, mesmo que ele nos tenha fornecido o arcabouço da melhor filosofia ao aprimorar o pensamento aristotélico. Não interessa o que São Tomás pensou; interessa a verdade do que ele pensou e como isso pode nos ajudar a perceber a verdade das coisas, que, isto sim, é o importante. Poderia não ter sido São Tomás a desenvolver este ferramental, que ele ia funcionar do mesmo jeito. São Tomás poderia ter dito uma besteira, e ela seria uma besteira do mesmo jeito. Mas o ensino filosófico dele é maravilhoso não por ser de um Doutor da Igreja (Doutores da Igreja não são necessariamente filósofos, e podem fazer má filosofia ou costurar meias mal; a teologia, não a filosofia, deles é o que faz com que a Igreja lhes tenha dado este título), sim por ser ótimo para perceber a verdade das coisas.<br /><br />Isto significa que estudar São Tomás não é nem pode ser um fim em si; ao contrário, devemos estudar, e muito, São Tomás para que possamos usar o ferramental magnífico que ele desenvolveu para estudar <span style="font-weight: bold;">o mundo</span>. Aliás, para que estudemos corretamente Deus e o mundo. Não adianta rigorosamente nada estudar S. Tomás e não aplicar o estudado a tudo o que nos cerca; seria como comprar o melhor microscópio do mercado e nunca tirar a tampa da lente, contentando-se em ler e reler o manual, brincar com todos os controles, etc.<br /><br />Filosofia é uma coisa, e teologia é outra. Aquela é a serva desta, porque sem o estudo daquela dificilmente se poderia entender corretamente esta (sem estudar metafísica não dá pra entender chongas de sacramentologia ou de cristologia, por exemplo). A Revelação, recebida, preservada e ensinada pela Igreja, é uma Verdade que não passa, e que podemos usar como parâmetro para julgar a verdade de outras coisas, de pensamentos teológicos, de algumas descobertas filosóficas que tocam a teologia, etc. Mas a filosofia não trata da Revelação; ela é um instrumento que nos ajuda a entender coisas reveladas, por ser um instrumento de compreensão de tudo.<br /><br />O estudo da filosofia, assim, não serve para "inventar novidades", sim para entender, com o auxílio do ferramental filosófico (que, mais uma vez, <span style="font-weight: bold;">não se limita a São Tomás</span>), a verdade acerca do que nos cerca. E o que nos cerca pode perfeitamente bem não ter chongas a ver com a Revelação, e pode perfeitamente ser um problema inédito.<br /><br />Por exemplo, são questões filosóficas as questões que hoje se colocam sobre o valor da vida (o que é um feto? É um ser humano? Faz parte da mãe? Está vivo?), sobre os limites da autoridade do Estado (ele pode inventar que dois barbados juntos são uma família? Ele pode desarmar os cidadãos? Ele pode proibir bebida/cigarro/gordura?), etc.<br /><br />O que a filosofia tem a fazer é descobrir a verdade das coisas: descobrir o que é o Estado, descobrir o que é a vida, a família, o feto, o ser humano, a mãe, a comida, o cigarro, a bebida, a arma, a defesa própria ou de terceiros, etc. É por isso que ela é a serva da teologia. Sem que se saiba o que é um feto, não se pode discernir se ele merece ser protegido pelo mandamento de não matar. Até hoje tem gente que mente que São Tomás teria sido a favor do aborto, pq ele dizia que só após a animação do feto ele é um ser humano. Ora, o problema era de filosofia natural (medicina, biologia, etc.): a animação é o que possibilita o crescimento, e a filosofia natural do tempo dele achava que o feto só começava a crescer na hora em que a gravidez se tornava perceptível (ou seja: não haveria um momento em que fosse permitido abortar, de qqr jeito). Hoje sabemos que a animação começa quando ocorre a concepção.<br /><br />O que a Igreja sempre pregou que se fizesse é a chamada "filosofia perene", ou seja, um único corpus de conhecimento que vai sendo aumentado e melhorado com o tempo, tendo como estrutura básica o ensinado por São Tomás, dirigido basicamente à questão da quididade ("o que é isto?") e daí se espalhando para outras coisas (por exemplo, pq dois corpos se atraem, como eles se atraem, qual é a relação entre a atração, a massa e a distância, etc., como o Newton fez ao fundar a física newtoniana, este ramo moderno da filosofia natural, com seu livro "Princípios matemáticos da filosofia natural").<br /><br />Não se trata de pegar São Tomás e estudá-lo como o pessoal da "filosofia" moderna faz com seus autores, estudando cada sistema delirante de epistemologia (pq aquilo não é filosofia, é má epistemologia) sem relação real com o mundo, sem tentar descobrir a verdade das coisas, sim de agregar mais e mais a este corpus magnífico, composto não só de São Tomás, mas de descobertas de milhares de filósofos, inclusive alguns modernos (Ortega y Gasset, por exemplo, que era um Heideggeriano - logo moderno -, contribuiu com importantes insights sobre o que é ser humano, sobre a organização da sociedade, etc.).<br /><br />São Tomás, que é simplesmente o nome mais importante por ter uma obra vastíssima e profundíssima e por ter aperfeiçoado o ferramental básico aristotélico, dizia que somos como anões nos ombros de gigantes, sendo os gigantes a soma das descobertas de todos os ancestrais. Bom, deste gigante S. Tomás é hoje o tronco, o centro da massa corpórea, por assim dizer, em termos de importância, mas isso não quer dizer nem que a filosofia comece com ele (Platão e Aristóteles seriam os pés, por exemplo) nem que ela termine com ele. Agora mesmo há gente, por exemplo, usando as descobertas da neurologia para aperfeiçoar a epistemologia tomista (que já previa muito do que foi descoberto pelos neurologistas modernos, aliás).<br /><br />Mas mesmo na filosofia moderna (e em filmes, e em jornais, e no bate-papo do botequim) dá para achar coisas boas, que possam passar a fazer parte da filosofia perene ao serem encaixadas neste corpus preexistente. Qdo se lê um autor de filosofia moderno, ele deve ser lido em busca de coisas com que possa contribuir para a filosofia perene, evitando a armadilha da filosofia moderna, que constrói elaborados castelos de cartas autorreferentes, sem comunicação entre os sistemas. Costumo dizer que filosofia moderna é uma forma de RPG, em que se constrói mundinhos fechados, e é um perigo muito grande que alguém estude São Tomás como os modernos estudam filosofia moderna.<br /><br />Para saber mais sobre este assunto, recomendo vivamente o livro de nosso bom Pe. Emílio, "<a href="http://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/busca.cgi?pchave=Emilio%20Silva%20de%20Castro+Filosofias%20da%20Hora%20e%20Filosofia%20Perene" target="_blank">Filosofias da Hora e Filosofia Perene</a>"<br /><br /><br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-43520688750754326052011-07-22T09:20:00.000-07:002011-07-22T09:41:09.916-07:00III - A SUPERSTIÇÃO DO DIVÓRCIO (3)<div style="text-align: center;"> III<br />A SUPERSTIÇÃO DO DIVÓRCIO (3)<br /></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;">Autor: G.K. Chesterton<br /><span style="font-weight: bold;">Tradução</span>: ©Prof. Carlos Ramalhete</span><br /></div><span style="line-height: 140%;"><div style="text-align: justify;"><br />Há um bom tempo se vem tentando, de modo curiosamente persistente, esconder o fato de que a França é um país cristão. Certamente há franceses envolvidos na conspiração, e indubitavelmente houve franceses – ainda que eu só saiba dos ingleses envolvidos – na tentativa, derivada daquela, de esconder o fato de que Balzac tenha sido um escritor cristão.<br /><br /><blockquote><span style="padding: 1em; border-left: 5px solid ; border-top: 1px dotted; display: block; background-color:#e8e8e8; font-size:small;color:#555555;" ><span style="font-style: italic;">Este é um trabalho em curso; antes de atingir sua forma final para publicação impressa, este texto ainda será cotejado novamente com o original, e a ele serão acrescentadas notas explicativas que facilitem sua compreensão pelo leitor atual.</span></span></blockquote><br />Comecei a ler Balzac muito depois de ter lido seus admiradores, e eles nunca me haviam sequer insinuado esta verdade. Eu lera que seus livros eram encadernados em capas amarelas, e seriam “desavergonhadamente franceses”, ainda que me tenha sido sempre algo um pouco nebuloso entender como ser francês poderia ser uma coisa desavergonhada para um francês.<a name='more'></a><br /><br />Eu lera a descrição mais verídica do “feiticeiro sujo da Comédie Humaine”, e sobrevi para ver que é verdade. Balzac certamente é um gênio, como os artistas que ele mesmo descreve, daqueles que conseguem desenhar de tal maneira uma vassoura, que se sabe que ela foi usada para varrer o local onde ocorreu um assassinato. Os móveis que Balzac descreve estão mais vivos que os personagens de muitos dramas.<br /><br />Para isso eu estava preparado, mas não para uma certa assunção espiritual que reconheci imediatamente como sendo um fenômeno histórico. A moralidade de um grande escritor não é a moralidade que ele ensina, mas a que ele considera evidente e que surge como pano de fundo. O tipo católico da ética cristã perpassa os livros de Balzac, exatamente como o tipo puritano da ética cristã perpassa os livros de Bunyan.<br /><br />Quais seriam as opiniões que defenderiam eu não sei, não mais que eu sei quais seriam as de Shakespeare; mas sei que ambos estes criadores de um mundo de multidões o construíram, comparados com outros escritores mais tardios, baseando-se no mesmo mapa moral fundamental que o do universo de Dante. Não há dúvida possível para quem os teste usando a verdade que mencionei: as coisas fundamentais em um homem não são as coisas que ele explica, mas as coisas que ele se esquece de explicar.<br /><br />Aqui e ali, contudo, Balzac explica, e explica com aquela concentração intelectual que o Sr. George Moore nitidamente percebe naquele autor quando ele se comporta como teórico. E, outro dia, achei em um dos romances de Balzac esta passagem que – independentemente de sua perfeita adequação ao estado de espírito do Sr. George Moore neste momento – me parece uma profecia perfeita desta época, que poderia perfeitamente ser a epígrafe deste livro: “junto com a solidariedade da família, a sociedade perdeu aquela força elementar que Montesquieu definiu e chamou de 'honra.' A sociedade isolou os seus membros para governá-los melhor, e dividiu para enfraquecer."<br /><br />Ao longo da nossa juventude e nos anos do pré-Guerra, a crítica corrente seguiu Ibsen, descrevendo o sistema doméstico como uma casinha de bonecas e a dona de casa como uma bonequinha. O Sr. Bernard Shaw forneceu uma variação à metáfora, dizendo que o mero costume mantém a mulher em casa, como mantém o papagaio na gaiola. As peças e histórias deste período pintaram em cores vivas uma mulher semelhante a um papagaio em outros aspectos, coberta de cores vivas, com uma voz irritante, viciada em repetir inúmeras vezes o que se lhe ensinou a dizer. O Sr. Granville Barker, filho espiritual do Sr. Bernard Shaw, comentou em sua peça engenhosa "A Herança de Voysey" que a tirania, a hipocrisia e o tédio seriam os elementos constituintes do “lar inglês feliz".<br /><br />Deixando de lado o que isto tem de verdade, seria bom insistir que a convencionalidade assim criticada seria ainda mais característica de um lar francês feliz. Não é a casa do inglês, mas a do francês que é seu castelo. Poder-se-ia acrescentar, abordando finalmente a visão ética essencial dos sexos, que a casa do irlandês é o seu castelo, ainda que tenha sido, ao longo dos últimos séculos, um castelo sitiado. De qualquer modo, estas convenções, que se percebe tratarem a domesticidade como algo tedioso, estreito e antinaturalmente manso e submisso, são particularmente poderosas entre os irlandeses e os franceses.<br /><br />Daí será certamente mais fácil, para qualquer pensador lúcido e lógico, deduzir o fato de que os franceses seriam tediosos e estreitos, e os irlandeses antinaturalmente mansos e submissos. O Sr. Bernard Shaw, irlandês que vive entre os ingleses, pode ser convenientemente tomado como exemplo típico da diferença; e descobrir-se-á indubitavelmente que os amigos políticos do Sr. Shaw, entre os ingleses, serão de um tipo revolucionário mais radical que os que ele encontraria entre irlandeses. Podemos então comparar a mansidão dos fenianos com a fúria dos fabianos.<br /><table border="0"><tbody><tr><td colspan="4"><br /></td></tr><tr><td rowspan="2">Este ideal monogâmico mortificante pode até mesmo, num sentido mais amplo, definir e distinguir toda a subserviência rasa de Clare de toda aquela revolta flamejante de Clapham. Tampouco precisamos avançar muito para entender porque as revoluções são desconhecidas na história da França, ou porque elas se sucedem rapidamente na política mais vaga da Inglaterra.<br /></td></tr><tr align="center"><td colspan="2"><span style="padding: 1em; margin-left: 5px; border-left: 5px solid ; border-top: 1px dotted; display: block; background-color:#e8e8e8; font-size:small;color:#555555;" ><span style="font-style: italic;">Este é um trabalho em curso. Ele está sendo publicado aqui à medida que o trabalho progride, para possibilitar um acesso ao menos parcial dos leitores brasileiros a esta obra do grande escritor inglês.</span></span></td></tr><tr><td colspan="4"><br /></td></tr></tbody></table><br />Esta rigidez e respeitabilidade certamente serão a explicação desta incapacidade completa para a explosão ou para a experimentação cívica que sempre marcou esta aldeia modorrenta de casinhas trancadas que é a cidade de Paris. Isso vale não apenas para os parisienses, mas também para os camponeses. Vale ainda mais para outros camponeses na grande Aliança. Os estudantes das tradições sérvias nos dizem que a literatura camponesa amaldiçoa de modo especial e singular a violação do matrimônio; e isso deve explicar o ordeiro pacifismo de carneirinhos de que frequentemente se queixa quanto a este povo.<br /><br />Falando de modo mais claro, há algo claramento errado no cálculo pelo qual se teria provado que a dona de casa seria necessariamente tão servil quanto uma empregada doméstica, ou que visse no homem domesticado alguém sempre gentil como uma rosa ou conservador quanto a Liga da Rosa. São precisamente os mais conservadores acerca da família os revolucionários no tocante ao Estado. Os que são acusados de preconceituosos ou de burgueses tacanhos, devido a suas convenções matrimoniais, são na verdade os mesmos que são acusados pela violência e pelas reviravoltas de suas reformas políticas. Tampouco há qualquer dificuldade em perceber a causa disto.<br /><br />Trata-se simplesmente de que uma sociedade do tipo do governo, ao lidar com a família, está lidando com algo quase tão permanente e tão capaz de se renovar quanto ele mesmo. Pode haver uma política familiar contínua, assim como há uma política exterior contínua. Em países camponeses a família luta; seria até mesmo possível dizer que a fazenda luta. Não quero simplesmente dizer que, em tempos maus e excepcionais, ela se revolta, ainda que isso seja importante. Era um acontecimento selvagem, mas saudável, quando nas expulsões irlandesas as mulheres jogavam água fervendo das janelas; era parte de uma retirada final ao uso de ferramentas particulares como armas públicas. Este tipo de coisa não é apenas uma briga de faca, mas quase uma briga de garfo e colher.<br /><br />Talvez fosse neste sentido sombrio que Parnell, naquela piada misteriosa, disse que na Irlanda todo mundo conhecia o Kettle (como talvez devessem, após suas glórias posteriores), e, em um sentido mais geral, é bem verdade que se meter com uma dona de casa acaba nos jogando na água quente. Mas não é destas crises de lutas corporais que eu estou falando, sim de uma pressão permanente e pacífica, que vem de baixo, de mil famílias, contra o quadro geral do governo.<br /><br />Para isso, é essencial que haja um certo espírito de defesa e de privacidade; nisso o próprio feudalismo tinha razão, ao perceber que qualquer questão de honra era necessariamente uma questão de família. Era verdadeiro o instinto artístico que representou a ancestralidade familiar em um escudo que protege o corpo. O camponês livre tem armas, ainda que não seja armoriais. Ele não tem um escudo de armas, mas tem algo a escudá-lo.<br /><br />Não vejo porque ele não deveria ter, em uma sociedade mais livre e mais feliz que a atual, ou mesmo que a do passado, um escudo dotado de um belo brazão. Afinal, vale para a ancestralidade o que vale para a propriedade: o erro não é que ela seja imposta aos homens, mas que ela lhes seja negada. Capitalismo demais não significa capitalistas demais, mas capitalistas de menos; e, do mesmo modo, a aristocracia peca não ao plantar uma árvore familiar, mas ao deixar de plantar uma floresta familiar.<br /><br />De qualquer modo, descobre-se que na prática o cidadão doméstico pode resistir a um cerco, mesmo que o cerco seja feito pelo Estado; isso ocorre porque ele tem alguém ao seu lado nos bons e nos maus momentos – especialmente nos maus momentos. Os defensores da idéia de que o Estado pode conseguir ser dono de tudo e administrador de tudo podem ignorar este argumento o quanto quiserem; é contudo necessário dizer, com todo o respeito, que o mundo, cada vez mais, os ignora. Se fosse possível encontrar uma máquina perfeita e um homem perfeito para operá-la, teríamos um bom argumento para o socialismo de Estado, ainda que o mesmo argumento servisse também para defender o despotismo pessoal.<br /><br />Creio, contudo, que a maioria das pessoas concorde agora que um pouco desta pressão social de baixo para cima a que chamamos liberdade seja vital para a saúde do Estado. E é ela que não pode ser exercida completamente por indivíduos, apenas por grupos e por tradições. Muitos foram estes grupos; houve os mosteiros, houve as guildas, mas há apenas um tipo, entre todos estes, que todos os seres humanos têm a inspiração onipresente e espontânea de construir para eles mesmos: e este tipo é a família.<br /><br />Era a minha intenção que este artigo fosse o último dos que alinhavam os elementos deste debate; terei, no entanto, que acrescentar uma curta conclusão acerca da ausência destes elementos nas propostas práticas (ou nada práticas) sobre o divórcio. Aqui, basta dizer que elas sofrem da mórbida doença moderna de sacrificar o normal em benefício do anormal. É fato que a “tirania, hipocrisia e tédio” de que se queixa não são típicos da domesticidade, sim da decadência da domesticidade.<br /><br />O caso desta queixa em específico, na peça do Sr. Granville Barker, o prova. O ponto crucial de “A Herança de Voysey" é que não havia uma herança de Voysey. A única herança que esta família tinha era uma dívida, bastante desonrosa. Naturalmente, os afetos familiares decaíram quando todo o ideal de propriedade e probidade decaiu; e é pouco o amor, bem como a honra, entre os ladrões.<br /><br />Ainda resta a provar que eles estariam tão entediados se houvesse uma herança positiva, ao invés de negativa, e se houvessem trabalhado em uma fazenda ao invés de em uma fraude. E a experiência da humanidade aponta na direção oposta.<br /><br /></div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;">Autor: G.K. Chesterton<br /><span style="font-weight: bold;">Tradução</span>: ©Prof. Carlos Ramalhete</span><br /></div><br /><span style="padding: 1em; border-left: 5px solid ; border-top: 1px dotted; display: block; background-color:#e8e8e8; font-size:small;color:#555555;" > <span style="font-style: italic;">Este é um trabalho em curso; antes de atingir sua forma final para publicação impressa, este texto ainda será cotejado novamente com o original, e a ele serão acrescentadas notas explicativas que facilitem sua compreensão pelo leitor atual.<br /><br />Ele está sendo publicado aqui à medida que o trabalho progride, para possibilitar um acesso ao menos parcial dos leitores brasileiros a esta obra do grande escritor inglês.<br /><br />Como esta versão é preliminar, pedimos sinceras desculpas por quaisquer enganos e agradecemos toda sugestão e auxílio que nos venham a ser prestados.</span></span>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-37175804336718793902011-07-20T09:18:00.000-07:002011-07-20T09:24:39.758-07:00Brazilian tolerance<div style="text-align: justify;"><span style="font-weight: bold;">Why are Brazilians particularly tolerant of problems, such as neighbours playing loud music, and long queues at the bank?</span><a name='more'></a><br /><br />A - In Brazilian culture, people are first and foremost defined by their relationships to other people. While the average American, Australian or European sees himself or herself mostly as an individual endowed with universal rights that may not be trod upon, Brazilians see themselves as nodes in a social network, in which each person is defined by who knows them and whom they know. Being seen as a nagging neighbor would damage their social relationships, leading them to think twice before complaining about anything. Thus, in a situation where a gringo would undoubtedly act to see his or her rights (to nightly silence, to a swift service at the bank, whatever) respected, a Brazilian will try instead to establish a good (i.e., enduring and mutually profitable) social relationship with his or her neighbors. He will endure the loud music, and in doing so the people responsible for it will become more or less connected to him and he will be able to expect them to endure his or her own unpleasantness, doing him small favors when requested, etc.<br /><br />It is not a straight exchange, as, ideally, the relationship will never end. He will not be bartering his endurance of a single night of loud music for one given favor, but, for instance, he will expect a discount at the entrance fee if he ever decides to join the ball. In other words, he will endure the loud music in exchange for a permanent relationship in which he can expect a special treatment, just as he is giving the party people a special treatment.<br /><br />At the same time, a strong notion of hierarchy comes into play: Brazilians do not see themselves as the equal of every other man, as there are people who are much more powerfully connected in the same networks he inhabits. Let us not forget that the Brazilian equivalent of "money talks and BS walks" is "mais vale ter amigos na praça que dinheiro em caixa" ("friends in the marketplace are worth more than cash"). Thus, in the bank (or if the loud party is thrown by someone powerful), to disturb the social order by complaining loudly would be seen as a social blunder, unless the complainer is more powerful than the bothersome party. If that is the case, the blunder will be the bank's, for not giving him his due respect.<br /><br />Thus, if the bank manager is a friend, the average Brazilian will expect his or her friend to fish him out of the queue and take personal care of his or her business: the bank manager's power becomes his own because they are connected. If he knows nobody at the bank, he is powerless and will not at all see a swift service (perceived as a kind of special treatment, as, looking around, he notices nobody has it!) as his right. On the other hand, he will more often than not chat with the people in the queue, complaining about the service as he would complain about the weather, establishing thus a relationship with them, "fellow underdog". Then, if he arrives the next day in a store and the store manager is the guy whom he met at the bank line, he will expect some kind of special treatment from him (anything from a smile to a good suggestion of what is the best buy), as they are already connected. Needless to say, if you want a good life in Brazil, don't forget your Dale Carnegie!<br /><br />For further reading, I would recommend a book by the famous anthropologist Roberto daMatta, called "<a href="http://www.amazon.com/Carnivals-Rogues-Heroes-Interpretation-Brazilian/dp/0268007942/ref=sr_1_2/105-7361883-1535656?ie=UTF8&s=books&qid=1190982175&sr=8-2">Carnival, Rogues, and Heroes</a>"<br /></div>-<br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-63764604365558973542011-07-19T14:16:00.000-07:002011-07-19T14:35:56.152-07:00Verdadeiro e Falso Ecumenismo<h2>Se "Fora da Igreja não há Salvação", o que é o Ecumenismo?</h2> <p style="text-align: justify;">Infelizmente esta é uma confusão muito comum, especialmente em certos meios ditos "progressistas"; esta confusão, na verdade, é fruto do chamado "relativismo", uma heresia já condenada pela Igreja muitas e muitas vezes.<a name='more'></a></p><p style="text-align: justify;">Antes de mais nada, vejamos o que é o ecumenismo verdadeiro (não o da LBV...): </p><p style="text-align: justify;">A palavra "ecumênico" sempre foi usada no sentido de uma reunião do conjunto dos bispos da Igreja. Assim, por exemplo, um Concílio que reúna os bispos do mundo todo é um concílio ecumênico, mesmo (e especialmente!) se não houver nenhum não-católico presente. </p><p style="text-align: justify;">Infelizmente esta palavra começou a ser usada no fim do século passado para definir um movimento surgido nos meios protestantes, que busca fazer uma reunião meramente jurídica de todas as seitas protestantes (não devemos nos esquecer que na eclesiologia protestante a Igreja, com "I" maiúsculo, não existe visivelmente, sendo composta por uma união invisível de todas as seitas); assim este movimento pseudo-ecumênico, expresso por exemplo no Conselho Mundial de Igrejas, deseja fazer com que as seitas aceitem a validade, por exemplo, dos Sacramentos ministrados por outras seitas. No caso de seitas que não acreditem em sacramentos, o objetivo do movimento seria fazer com que admitissem que as seitas que acreditam são verdadeiramente "cristãs" no mesmo sentido que o são os membros de sua seita própria. </p><p style="text-align: justify;">Ora, esta visão é incompatível com a Fé cristã. O protestantismo prega que a fé apenas salva, mas não se preocupa com a questão que evidentemente surge em decorrência desta crença: fé em quê? Para um protestante, trata-se de uma aceitação subjetiva de um "jesus" salvador, não de uma aceitação real d'O Jesus Salvador. Digo isso por uma razão simples de perceber: se cada um interpreta diferentemente a Escritura e acredita que o que Ele pede é uma coisa diferente do que outro protestante (por vezes na mesma seita!) acredita, não se está aceitando Jesus, mas sim inventando um "jesus" pessoal, um "jesus" que corresponde na verdade apenas às ânsias e preconceitos do "crente". </p><p style="text-align: justify;">Assim Monique Evans e Tiazinha, por exemplo, crêem em um "jesus" que não vê absolutamente problema nenhum na difusão de pornografia, "jesus" esse radicalmente diferente, por exemplo, do "jesus" de uma senhora da "Assembléia de Deus", que não tira suas saias longas e não corta o cabelo. </p><p style="text-align: justify;">Do mesmo modo o "pastor" Caio Fábio acredita em um "jesus" que permite o divórcio (em frontal contradição com as próprias palavras de Cristo registradas no Evangelho!), mas preocupa-se principalmente com problemas sócio-policiais da população favelada... </p><p style="text-align: justify;">Para Monique Evans e Tiazinha, entretanto, Caio Fábio é certamente um cristão, e presumivelmente o contrário também é verdade. </p><p style="text-align: justify;">Este é o "espírito ecumênico" do Conselho Mundial de Igrejas, que aliás já está tendo problemas graves devido a, por exemplo, a pregação pró-homossexualismo de algumas seitas que dele fazem parte, pregação essa que já provocou a saída de vários grupos deste Conselho. </p><p style="text-align: justify;">A mensagem do falso ecumenismo é "tolerância", compreendida como na verdade mero indiferentismo: não importa em que "jesus" é a fé do "crente", importa que ele tenha fé. </p><p style="text-align: justify;">O "ecumenismo" da LBV é aparentemente o paroxismo deste tipo de mentalidade indiferentista, mas na verdade o é apenas para consumo externo. Nas creches e escolas da LBV, por exemplo, as crianças são indoutrinadas na doutrina própria desta seita, que entre outras coisas ensina o reencarnacionismo, as várias revelação sucessivas (incluindo aí Allan Kardec e o próprio fundador da LBV), a inexistência do Espírito Santo (visto como uma reunião de "espíritos evoluídos"), etc. </p><p style="text-align: justify;">Assim eles consideram que todas as religiões são aceitáveis, mas a verdade seria a pregada por eles. Como são reencarnacionistas, não vêem necessidade de confronto; afinal se o sujeito for um bom protestante, ou católico, ou macumbeiro, na "próxima encarnação" ele poderá ter acesso à verdade LBVista... </p><p style="text-align: justify;">Estes falsos ecumenismos são totalmente diferentes da noção católica de ecumenismo. Já vimos que a palavra "ecumênico" sempre teve na Igreja a conotação de algo relativo a uma reunião de toda a Igreja, não de uma reunião interreligiosa. Vimos igualmente que o relativismo é algo totalmente contrário à fé cristã. </p><p style="text-align: justify;">Como então se coloca o afã "ecumênico" da Igreja, no que diz respeito ao diálogo com os protestantes e cismáticos orientais? </p><p style="text-align: justify;">Trata-se de, como Cristo, ir buscar à ovelha que está afastada, trazer para a Igreja aqueles que estão fora dela, quer formal quer materialmente. O Concílio Vaticano II pede, como norma pastoral, que isto seja feito partindo-se do que já é de conhecimento ou uso do herege ou cismático. Nisto o texto conciliar corrobora a imortal sabedoria do Doutor Angélico, S. Tomás de Aquino, que já dizia: "Ao debater com pagãos, uso a Razão; com judeus, o Antigo Testamento; com hereges, toda a Escritura". </p><p style="text-align: justify;">Assim devemos perceber os reflexos da verdadeira Fé cristã que estão contidos em cada seita ou crença pessoal, para a partir destes reflexos incentivar o herege ao estudo para que ele perceba os erros e incoerências da falsa fé que tem. </p><p style="text-align: justify;">"Ora", diria o indiferentista, "e os 'elementos de santificação' que existem nas seitas?" Respondo que eles existem, como podemos ver nos próprios documentos do Concílio, apenas em função da Igreja. Trata-se de, para usar uma parábola evangélica, migalhas que caem da mesa. Um batismo válido ministrado por uma seita protestante não é válido por ter sido ministrado por esta seita, mas sim apesar disto! </p><p style="text-align: justify;">Assim um batismo válido ministrado por, digamos, uma seita pentecostal faz com que a pessoa que foi batizada torne-se não pentecostal, mas católica. Alguém que morra logo após um batismo válido ministrado por uma seita pentecostal morre como católico, e como tal é salvo. </p><p style="text-align: justify;">Este pertencer invisível à Igreja, entretanto, não é garantia de salvação. Muito pelo contrário, aliás. Alguém que tenha nascido em um ambiente protestante, nunca tenha tido contacto algum com a verdadeira fé (situação evidentemente impossível no Brasil...) e siga a falsa fé em que foi educado após um batismo válido pode ser salvo, se, e somente se, ele nunca abandonar a Graça de Deus infusa pelo batismo. </p><p style="text-align: justify;">Ora, como é abandonada esta graça? Pelo pecado mortal (pecado cometido deliberada e conscientemente em matéria grave). Assim a chance de um protestante se salvar está em não pecar nunca mortalmente após um batismo válido (e batismo é só uma vez: se ele foi batizado em criança é este o batismo válido; se o foi em adulto, não adianta reiterar o batismo: o segundo vale apenas por um banho sem sabonete...), seguindo assim sempre a sua consciência de forma irrepreensível e aceitando todas as graças dadas por Deus. </p><p style="text-align: justify;">Ora, será que isso é comum? Será que é comum que uma pessoa, mais ainda, uma pessoa sem acesso ao Santíssimo Sacramento e fechada em um ambiente de mentiras e heresias, consiga sempre corresponder à graça de Deus de tal maneira que nunca, jamais peque mortalmente? Certamente que não. </p><p style="text-align: justify;">Tal acontecimento é evidentemente raríssimo, mas pode existir. Devido a sua raridade e, mais ainda, à presunção em que implicaria confiar que ocorra tal comportamento, é um dever de caridade de todo católico buscar trazer à Igreja este pobre protestante, para que, tendo acesso aos Sacramentos e à Verdade, possa evitar as chamas eternas do Inferno. </p><p style="text-align: justify;">A única outra chance que um protestante hipotético, nascido e criado sem contacto algum com a Igreja, poderia ter de salvar-se é uma perfeita contrição na hora da morte. O que é uma perfeita contrição? É um arrependimento completo de seus pecados, movido por um amor absoluto e perfeito a Deus. Por Deus vem o horror aos pecados, e Deus não deixaria de perdoar alguém que estivesse tão perfeitamente arrependido de seus pecados e a buscar a união com Ele. </p><p style="text-align: justify;">Ora, o protestantismo desincentiva a contrição, vista por eles como demonstração de falta de fé. Afinal, eles acreditam que o pecado do homem é encoberto por Jesus, mas continua existindo; eles não acreditam em santificação do homem, mas acham que Cristo mente a Deus Pai, dizendo que o homem está sem pecado, para que ele possa entrar no Céu. Assim preocupar-se por um pecado cometido seria uma demonstração de falta de fé no "pistolão" celestial que os faria entrar no Céu mesmo sendo sempre pecadores. E é apenas, nesta heresia, a falta de fé que pode fazer com que alguém não seja salvo... </p><p style="text-align: justify;">No caso de um católico que apostate e venha a ser, digamos, batista ou pentecostal, a situação é muito mais grave, assim como é gravíssima a situação de um protestante nascido em país católico (e que assim teve contacto com a Verdade). Isto ocorre por uma razão muito simples: a Verdade atrai quem a busca, e a graça da conversão é sempre dada por Deus a todos, mesmo os piores pecadores. </p><p style="text-align: justify;">O próprio fato de um católico apostatar da Verdadeira Fé e unir-se a uma seita é na verdade um ato de afastamento de Deus, de negação de Sua Graça. O nosso protestante hipotético que nunca tivesse conhecido a Igreja nem cometido pecado mortal, por exemplo, seria indubitavelmente alguém que, pela oração, pela caridade, pelos meios que estivessem a seu dispor, procurara sempre aceitar a graça de Deus. Este protestante hipotético, caso tivesse qualquer chance de contacto com a Igreja (nem que fosse pela TV ou pela Net), aceitaria a graça que Deus sempre está a oferecer a todos os pecadores e hereges e se converteria. </p><p style="text-align: justify;">Assim um protestante em país católico ou, pior ainda, um católico que se tornou protestante é alguém que se negou a aceitar uma graça dada por Deus, escolhendo separar-se de Deus. Vemos assim como é perigosa esta situação. A pessoa escolheu, movido provavelmente por interesses outros (possibilidade de segundas núpcias, desejo de ser o árbitro final do certo e do errado - a exemplo de Adão e Eva no Paraíso...), abandonar a Cristo e inventar seu próprio "jesus", negando-se assim a aceitar aquilo que Deus pede dele e para o quê Ele oferece a cada instante os meios (a graça da conversão). </p><p style="text-align: justify;">Mesmo que esta pessoa tenha cometido este ato (negar-se a aceitar a graça) sem ter consciência de seu erro, isto não deixou de ser um ato de separação de Deus. Trata-se de ao mesmo tempo a comprovação de uma negação provavelmente habitual da graça (posto que se ele estivesse habitualmente disposto a aceitar as graças dadas por Deus não teria negado a mais importante!) e uma decisão de não mais aceitar a reconciliação com Deus (feita pelo Sacramento que Cristo instituiu) após um pecado mortal que ele venha a cometer. </p><p style="text-align: justify;">Além disso, provavelmente não durará muito para ele cometer um pecado mortal, visto o seu fechamento, doravante habitual, para a graça. Não podemos esquecer que é apenas pela graça de Deus livremente aceita que podemos não pecar; a nossa natureza sozinha nos leva a pecar. "Abyssus abyssum invocat", o abismo atrai abismo. Quanto mais a pessoa peca, quanto mais ela se afasta da graça de Deus, mais fácil se torna pecar. </p><p style="text-align: justify;">O dogma (um dogma é algo que é Verdade Revelada, que deve ser crida por todo cristão; um exemplo disso é a Santíssima Trindade, Três Pessoas e Um Só Deus) nos afirma claramente que "Fora da Igreja não Há Salvação". Não é possível salvar-se fora da Igreja, que é a Comunhão dos Santos. Não é possível salvar-se em estado de pecado mortal, não é possível salvar-se em uma seita herética. </p><p style="text-align: justify;">A eventual salvação de um herege vem de sua conversão ou, no caso de alguém que nunca, jamais, tenha tido acesso à Igreja, pela aceitação de todas as graças dadas por Deus, o que levaria a uma conversão caso ele tivesse a oportunidade; é a isto que se refere o documento *Diálogo e Anúncio* do Pontifício<br />Conselho para o Diálogo Inter-religioso: "Em muitos casos, eles já podem ter<br />respondido implicitamente à oferta de Deus de salvação em Jesus Cristo; um<br />sinal disto pode ser a prática sincera das próprias tradições religiosas, à<br />medida que elas contêm autênticos valores religiosos. Podem já ter sido<br />atingidos pelo Espírito e, de certo modo, estar associados, sem o saberem,<br />ao Mistério Pascal de Jesus Cristo (cf. GS 22)." </p><p style="text-align: justify;">É o caso de alguém nascido protestante ou até pagão, sem jamais ter tido contacto com a Fé Cristã verdadeira, que tenha sempre, ao longo de sua vida, respondido "sim" a tudo o que Deus dele pediu, praticando sinceramente as práticas religiosas de sua comunidade, no que elas contém de conforme à Lei Natural. Assim alguém que tenha sido criado, digamos, em uma comunidade de adoradores de ídolos que fazem sacrifícios humanos não poderia jamais tomar parte nos ditos sacrifícios, abomináveis à luz da Lei Natural que todos nós já temos inscrita em nosso coração e que não precisamos aprender de fontes externas. </p><p style="text-align: justify;">A associação deste hipotético pagão ou protestante com a Igreja, Corpo Místico de Cristo, ocorreria sem que ele o soubesse; sua resposta habitual de aceitação das graças dadas por Deus corresponderia, na Infinita Misericórdia do Senhor, a uma aceitação da oferta de Deus de Salvação no Cristo Jesus. Esta oferta só não foi aceita de forma explícita por não ter sido conhecida, pelo fato deste protestante ou pagão hipotético nunca ter visto um só católico em toda a sua vida. </p><p style="text-align: justify;">Esta pessoa está assim unida de forma invisível à Igreja; ela está materialmente na Igreja, mas não formalmente, e só não está formalmente na Igreja por falta de oportunidade. Enquanto ela se mantiver dentro da Igreja, ainda que desta forma invisível, ela pode ser salva. Se um dia, porém, ela deixar de aceitar as graças dadas por Deus e pecar consciente e deliberadamente em matéria grave, ela só poderá voltar à Igreja se tiver uma perfeita contrição, já que não tem acesso ao Sacramento da Confissão. </p><p style="text-align: justify;">Assim, portanto, é o dever de todo católico unir-se ao afã ecumênico da Igreja, buscando a conversão dos hereges e cismáticos, buscando trazê-los de volta à Igreja, fora da qual não há Salvação. </p><p style="text-align: justify;">O Santo Padre João Paulo II, através de organizações com este objetivo, trata desta nobre missão no âmbito mais amplo, buscando fazer com que seitas e grupos cismáticos voltem à Igreja em bloco. Até agora já foram vários grupos a abandonar seus erros e voltar à fidelidade e obediência ao Romano Pontífice, condição necessária (ao menos implicitamente) para a salvação. </p><p style="text-align: justify;">A nós cabe fazê-lo no âmbito individual, trazendo pessoas (amigos, conhecidos, vizinhos...) de volta à Igreja, de volta a Cristo, de volta à possibilidade de Salvação. </p><p style="text-align: justify;">Sugiro, para facilitar este diálogo, especialmente com os protestantes, uma visita à página de meu programa de rádio, <a href="http://www.hsjonline.com/p/videos.html">A Hora de São Jerônimo</a>, onde podem ser encontrados argumentos para iniciar um debate que faça com que o herege perceba os erros de sua seita. Sugiro fortemente que o primeiro programa a ser ouvido seja o sobre a <a href="http://www.hsjonline.com/2011/07/biblia.html">Bíblia</a>, que explica o erro de base do protestantismo. </p><div style="text-align: justify;">Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.<br /></div><p> </p><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-79879762013039871512011-07-18T11:17:00.000-07:002011-07-18T11:32:34.210-07:00A Bíblia<div style="text-align: justify;">História da Bíblia, para que a Bíblia serve e para que não serve, cânone bíblico, refutação da doutrina protestante da Sola Scriptura (a heresia segundo a qual a Bíblia conteria a totalidade do que Deus nos ensina), etc.<br /></div><br />Ouça o áudio:<a name='more'></a> <embed autostart="false" src="http://www.luisguilherme.net/HSJOnline/audio/biblia.ra" height="25" width="25"></embed><br /><br />Sugestão de leitura:<span style="font-size:85%;"><br /><a href="http://www.hsjonline.com/2009/09/para-que-serve-biblia.html">Para que serve a Bíblia?</a> Para quê Deus inspirou os escritores sagrados? Qual o objetivo da Bíblia?</span><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-891268048015555917.post-19973095478093052012011-07-18T11:06:00.000-07:002011-07-18T11:10:57.888-07:00Eclesiologia protestante<div style="text-align: justify;">O principal erro do protestantismo não é o Sola Scriptura; este é a caixa de Pandora, e só isso. O que, porém, levou Lutero a abrir esta caixa? Um erro de eclesiologia. A eclesiologia protestante está de cabeça para baixo, e é isso que os leva a aceitar algo tão irracional quanto "acreditar só na Bíblia" quando a própria Bíblia diz que não é para "acreditar só na Bíblia" (e isso se deixarmos de lado outras coisas importantes, como o fato de não haver nenhum cânone definido no próprio texto inspirado, o que já faz do cânone bíblico algo extra-bíblico...).<br /><br />Vejamos então um pouco de eclesiologia.<a name='more'></a><br /><br />O que é comunhão? É a participação no Corpo de Cristo. Todos nós, batizados, somos enxertados no Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja. Nosso Senhor é Cabeça da Igreja, e a alma da Igreja (ou seja, sua forma, aquilo que lhe dá coerência) é o Espírito Santo. Assim como um corpo sem alma não é uma pessoa, uma reunião de pessoas sem a união e a coerência que são dadas pela alma, que é o Espírito Santo, não é uma Igreja.<br /><br />O protestante, porém, não entende que o Espírito Santo seja a alma da Igreja. Ele O vê como uma espécie de "assistente pessoal", como uma espécie de garantia pessoal de infalibidade dada a cada protestante. É por isso que ele não aceita a Comunhão dos Santos.<br /><br />Assim, nada mais natural para ele que considerar que quando se junta trezentos "crentes" em uma sala duas vezes por semana se tenha uma "Igreja". Não há união nenhuma entre eles, senão o fato de estarem todos no mesmo lugar, ao mesmo tempo, fazendo a mesma coisa. Para eles, o Espírito Santo não dá uma coerência, uma união indissolúvel na unidade do Corpo de Cristo.<br /><br />É por isso que é tão comum vermos em seitas protestantes a citação bíblica (presente nas fachadas de muitas seitas) que afirma que "Jesus Cristo é o Senhor". Isto ocorre porque na Sagrada Escritura S. João nos ensina que só no Espírito Santo podemos dizer isso. O que significa o que escreve S. João? Que só na Igreja, ou seja, só sendo enxertados neste Corpo Místico de Cristo e sendo animados (tendo como alma da Igreja, tendo como forma - ou princípio de coerência - da Igreja) pelo Espírito Santo podemos dizer isso. De nada vale dizer que Ele é o Senhor quando se está fora da Igreja. Será o mesmo que dizer bu-bu-bu ou bó-bó-bó, e valerá um dia um belo "apartai-vos de Mim, malditos, pois não os conheço".<br /><br />Faltando-lhes, assim, a noção mais básica da Igreja como Corpo uno e indivisível de Cristo, que é o sentido da comunhão (somos irmãos em Cristo pelo batismo, não por estarmos ao lado um do outro em um banco de igreja; o que nos une é Cristo. É isso que faz ser péssimo dar as mãos no Pai-Nosso, por exemplo, passando assim um sinal trocado de que a nossa união é direta entre um e outro, e não através do Cristo), eles tendem a chamar de "comunhão" o mero irenismo, o mero coleguismo (freqüentemente hipócrita, pois é necessário um esforço consciente em evitar quaisquer questões mais espinhudas - e isso inclui até mesmo a eficácia do batismo! - para que dois "crentes" de seitas diferentes, ou até de cultos em horários diferentes na mesma seita, não comecem a debater sem possibilidade de chegar a uma definição de quem está certo).<br /><br />É o mesmíssimo mecanismo que os leva a chamar trezentas pessoas com crenças diferentes, desunidas em tudo que não na presença física regular no mesmo lugar e horário e no apego a algumas fórmulas dogmáticas (cujo sentido é diferente para cada um), de "Igreja". Se isso é "Igreja", o que faz e mantém a "Igreja"? A Graça? Os Sacramentos? A Santidade? O Espírito Santo?<br /><br />Claro que não. O que impede que soçobre esta união acidental (radicalmente diferente da união substancial dos cristãos no Corpo Místico de Cristo - os protestantes unem-se pelo acidente da localização, enquanto os cristãos unem-se na substância da Igreja, de que somos a matéria e o Espírito Santo é a forma) é apenas o bom-mocismo, a fuga das questões difíceis, o empenho em ser um "xuxuzinho" para todos os outros. Se o "crente" Zeca briga com o "crente" Joca, acabou a "comunhão". Se Zeca e Joca levam a briga deles mais além e as pessoas se dividem entre pró-Zequistas e pró-Zoquistas, acabou a "Igreja".<br /><br />É por isso que a Igreja nos ensina que não podemos chamar estas seitas de "Igrejas"; elas não o são.<br /><br />A Igreja é uma só e é visível, e é a Igreja Católica. Nós não "fazemos Igreja", mas somos nela enxertados. Somos a matéria que recebe sua coerência pelo Espírito Santo e passa a constituir uma união substancial, um ente, que é a Igreja, o Corpo Místico de Cristo, a Igreja. Nossas brigas - ao contrário do que ocorre entre os protestantes - não são fator de divisão, mas de união. O que nos une não é estarmos bem um com o outro, mas nos deixarmos ser animados pelo Espírito Santo, nos apegarmos à Verdade. Se não brigarmos, se não discutirmos, seria como uma Aids no Corpo Místico de Cristo, o que é inimaginável. O erro, a mentira,m tudo isso é inimigo do Corpo de Cristo. Isto é como um vírus ou uma bactéria, que depende dos anticorpos para ser expelido. Ele precisa, porém, ser reconhecido pelo sistema imunológico para que possa ser expelido.<br /><br />Estas brigas são exatamente isso: um reconhecimento do erro para que ele possa ser expelido. Se eu sento o tacape nos blasfemos que batem palmas na Missa (a Missa é o Calvário, e só quem bateu palma no Calvário foram os judeus e os romanos...), estou sinalizando um inimigo do Corpo de Cristo que está tomando algumas de Suas "células", que somos nós. Precisamos salvar estas células e expelir o inimigo. Depois que as células mais próximas do invasor o detectaram, elas mandarão um aviso para o cérebro, que pode - ou não - tomar conhecimento disso. Nós não reparamos na imensa maioria das invasões bacterianas e viróticas que nosso corpo enfrenta. Algumas nos chegam ao conhecimento, e dizemos "estou gripado, preciso me tratar". Isto é uma definição magisterial. Antes que ela surja, porém, é extremamente necessário que o inimigo tenha sido apontado e combatido, pois ela só surgirá quando a crise for realmente gravíssima. Assim como para as células próximas a uma pequena ferida que está inflamada a crise parece grave, mas o cérebro nem se dá conta do que está acontecendo até que a dor aumente muito, nós que estamos próximos às crises devemos agir de maneira forte, mesmo que o cérebro ainda não se tenha dado conta. Se agirmos eficientemente, o cérebro jamais se dará conta. Nosso Senhor prometeu que a Igreja não seria vencida, mas não que não perderia membros por gangrena (como ocorreu tantas vezes; basta ver o Norte da África, antes terra cristã).<br /><br />Para o protestante isso seria inimaginável, pois o mais natural seria que os batedores de palmas fizessem uma outra "Igreja", onde todos batem palmas o tempo todo. O fator da "comunhão" desta "Igreja" seria justamente o ânimo de aplaudir a torto e a direito. Não há fator de unidade que não o acidental, não há sentido algum empermanecer na mesma "Igreja" se há brigas lá. Isso ocorre porque eles não percebem que a Igreja não é feita por homens (como o corpo humano não é feito por células: se juntarmos milhões de células não teremos um corpo humano, mas um embrião com duas células já é um corpo humano por ter uma alma, ter algo que não é sua matéria e lhe dá sua coerência), e não percebem os inimigos da igreja como realmente inimigos. Para eles, a divisão - que para nós seria a horrenda perda de um membro da Igreja, pois quem se separa do Corpo não é mais Corpo, como uma mão amputada não é mais a mão de alguém e sim um monte de carne e ossos a caminho da putrefação - é uma solução, uma maneira de fazer com que ainda haja "comunhão" (entendida como companheirismo, amizade humana e natural, etc.).<br /><br />Assim eles têm esses pedaços de carne putrefata dominados por bactérias X e outros dominados por bactérias Y, e são justamente as bactérias que eles vêem como os elos de união interna, como a coerência interna daqueles pedaços de carne putrefata. Todas as seitas juntas aceitam algumas frases-chavão (Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia...), com cada uma delas entendendo estas frases de modo completamente diferente, como se as colônias de bactérias nos pedaços de carne estivessem em acordo em dizer que é bom devorar carne, e só. Uma transforma a carne em nitrogênio e a outra em metano, mas ambas chamam a transformação que efetuam de "devorar carne".<br /><br />Pudera que quem pensa assim fique horrorizado ao ver a ação dos anticorpos no Corpo vivo, e confunda a bronca de São Paulo nos que pregavam a união natural como superior à união em Cristo (ou seja, estar ligado a Apolo ou a Paulo, e não a Cristo; ter uma "comunhão" de companheirismo com Apolo ou Paulo como mais importante que ter a mesma única Fé e o mesmo único batismo no mesmo único Senhor, fazendo assim parte do mesmo único Corpo Místico de Cristo) com o seu oposto: uma bronca nos que - como S. Paulo - brigam contra a infiltração do erro para que a Verdade pristina sempre prevaleça.<br /></div>-<br /><div style="text-align: center;"><span style="font-size:small;">©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor</span></div><div style="text-align: center;"><span style="font-size:x-small;"><i>Aviso ao leitor: Alguns artigos foram escritos em algum momento dos últimos quinze anos; as referências neles contidas podem estar datadas, e não garantimos o funcionamento de nenhuma página de internet nele referida.</i> </span></div>Anonymousnoreply@blogger.com0