A pena de morte e a Doutrina da Igreja

Um amigo, católico como eu, e também como eu contrário à pena de morte em nosso país, levou um pouco além do desejado a sua argumentação. Disse ele que:

A pena de morte é uma desobediência ao mandamento de não matar.

Ao que respondi:

Eu presumo que você também não concorde quando o Catecismo diz que o dia de descanso do cristão é o domingo e não o sábado; afinal, assim como o texto bíblico dos Mandamentos diz "não matar", também diz para "guardar e santificar o sábado"...

O problema básico do seu raciocínio é que ele se atém ao que você conhece e entende, ignorando e considerando irrelevante o que o ultrapassa. E você conhece e entende muito mais do que lê nos jornais ou ouve em reuniões políticas do que o que a Igreja prega.

A Igreja sempre teve a pena de morte como legítima e lícita. O Catecismo de Trento, usado já há 428 anos sem interrupção, traz esta frase. O Novo Catecismo tampouco condena (nem poderia) a pena de morte, colocando apenas a questão dela ser ou não adequada, de haver ou não necessidade dela.

Algo que é ensinado sem interrupção pela Igreja ao longo de séculos é correto. Se assim não fosse, o Espírito Santo estaria enganando a Igreja, e Ela estaria pregando falsidades. As portas do Inferno teriam prevalecido contra Ela.

A opinião pessoal de um bispo, de um Papa, de um grupo de fiéis ao longo de uma ou duas gerações não tem peso algum perto do que a Igreja sempre ensinou.

A Igreja existe para ensinar, santificar e governar. Ela não existe para inventar ensinamentos, mas para transmitir o Depósito da Fé a Ela confiado e por Ela mantido em sua íntegra. O mundo muda (aliás o mundo gira e a lusitana roda, mas isso não vem ao caso), mas a Igreja não muda, assim como não muda a Sua Doutrina.

A razão disso é clara: a Igreja não é a dona da Verdade,podendo mudar a Verdade ou jogá-la fora. Ela é a depositária da Verdade, e tem a missão de fazer a mesmíssima Verdade chegar aos ouvidos de todas as gerações.

A sua compreensão (ou a minha, ou a do Zebedeu da esquina, ou até a do Papa) desta Verdade não A limita nem o poderia fazer. Não podemos achar que a Verdade se encerra onde se encerra a nossa capacidade de compreensão.

O que a Igreja ensina muitas vezes só vai se mostrar realmente acertado depois de séculos em que aquele ensinamento pareceu absurdo e sem sentido. Outras vezes depois de apenas alguns anos; agora, por exemplo, os efeitos deletérios dos contraceptivos e, mais importante, da mentalidade contraceptiva começam a aparecer. E é agora que podemos começar a perceber o acerto da doutrina imutável da Igreja, ao condenar estas práticas (como já condenava antes o coitus interruptus...).

Do mesmo modo agora a nossa sociedade, imbebida de modernismo, considera que o homem é a medida e o fim último de todas as coisas. A Deus, substitui-se o Homem. Assim, o maior crime para a nossa sociedade é o crime contra o Homem, não mais o crime contra Deus.

Negar a Verdade não é criminoso; mas ai de quem negar a democracia! Atentar contra Deus não é criminoso; mas ai de quem atentar contra a vida humana. A Vida Eterna é relegada ao rol das superstições ultrapassadas, e alguém que se dedique a buscar arrancar a Vida Eterna dos irmãos tem "direito de expressão" (Cf. "O Povo contra Larry Flint" - seria este o nome? O filme sobre o pornógrafo, pintado como herói por ter a "coragem" de publicar fotografias obscenas), mas alguém que justamente por prezar a Vida Eterna, se levante legítima e legalmente contra aqueles é pintado como um monstro repressor (e isso vai desde os Inquisidores - São Carlos Borromeu, rogai por nós! - até, em alguns círculos, o Santo Padre João Paulo II).

Isso se mostra em todos os campos: no da política, o erro maçônico contido na Constituição americana é visto por muitos como uma expressão da verdade, e são poucos os que têm a coragem de afirmar a Verdade Revelada de que o poder não emana do povo, e não é em seu nome que deve ser exercido.

No da moral, não é sequer necessário entrar no assunto; basta parar por dois minutos defronte a uma banca de jornais para fazer qualquer cristão digno deste nome ansiar por uma garrafa de gasolina e um fósforo, para não falar das obscenidades que parece haver na Internet (graças a Deus não sei onde tem).

No campo da religião, então, a coisa vai mais longe ainda: é o subjetivismo que reina, e cada um se sente com autoridade superior à do papa, superior mesmo à de Jesus, e acha que porque sua cabecinha limitada não entende algum ponto da Verdade Revelada, é Esta que está errada e deve ser "podada" até que se adeque a seus preconceitos. Isso se reflete no surgimento de milhares de seitas, em que cada um escolhe a que prega exatamente o que quer ouvir, na falsa obediência dos que se dizem católicos mas são a favor do aborto e da livre interpretação particular da Doutrina (o chamado catolicismo de bufê, em que cada um se serve do que quer e deixa o resto para lá), no sucesso das LBV e outras seitas que propagam "só fazer o 'bem"...

E também na questão da pena de morte. Imbuídos de uma visão modernista, segundo a qual é o homem o mais importante, é a vida física do homem o único fator digno de consideração, muitos - em geral os mesmos que preferem o agitprop à Inquisição, aliás - se alevantam contra a Doutrina da Igreja e pregam que a Pena de Morte é um mal em si (note-se que o aborto, pena de morte aplicada a inocente, não é tão mau assim para eles; afinal, ninguém está vendo que há uma criança ali...), algo que não condiz nem poderia condizer com o deus que inventaram para si.

Se quiserem restabelecer a pena de morte no Brasil você pode contar comigo para participar de movimentos contra. Mas por favor, não tente achar que a opinião que partilhamos é a Doutrina da Igreja.


©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

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